O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, conheceu pessoalmente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela primeira vez em uma visita oficial à Casa Branca nesta quarta-feira, 8. Líder de esquerda, eleito em 2018, AMLO, como Obrador é conhecido, vinha mantendo distância do colega americano em virtude da posição de Trump quanto ao país vizinho. O americano atribui os problemas da América aos imigrantes mexicanos e prometeu construir um muro para separar os dois países.
Na Casa Branca, porém, o clima foi de cordialidade. Trump chamou AMLO de amigo, enquanto destacou a recente entrada em vigor do USMCA, o novo acordo de livre comércio entre os dois países e o Canadá, que entrou em vigor no dia 1° desse mês. Assinado pelo antecessor de López Obrador, Peña Nieto, em 2018, o acordo substituiu o Nafta e trouxe garantias para trabalhadores, algo não previsto anteriormente.
“Hoje comemoramos a vitória histórica que alcançamos juntos apenas alguns dias atrás [quarta-feira 1º], quando o Nafta [antigo acordo de livre comércio] foi oficialmente encerrado e substituído por um novo USMCA. Enquanto o Nafta reduziu salários e eliminou empregos, o USMCA inclui proteções trabalhistas inovadoras para os trabalhadores dos três países. Este acordo histórico trará inúmeros empregos de volta à América do Norte”, disse Trump em coletiva de imprensa junto a AMLO na Casa Branca.
Segundo os economistas Dean Baker e Robert Scott, o aumento de importações nos Estados Unidos causado pelo Nafta, assinado no início da década de 1990, pode ter causado a perda de até 600.000 empregos no México em duas décadas.
As principais diferenças entre o USMCA e o Nafta envolvem a indústria automobilística. Sob o novo acordo, para um automóvel ser comercializado sem tarifas alfandegárias, ele precisam ter 75% de suas peças manufaturadas no México, nos Estados Unidos ou no Canadá — mais do que os 62,5% que eram exigidos pelo Nafta.
O USMCA ainda criou uma nova regra para que os automóveis não sejam taxados: de 40% a 45% das peças do automóvel devem ser fabricadas por trabalhadores com um salário de no mínimo 16 dólares (85 reais) por hora. A exigência, que não existia no Nafta, visa a conter o impacto da precarização do emprego no México e na concorrência entre trabalhadores dos três países.
Em retribuição ao acordo, o governo mexicano aprovou uma reforma trabalhista em 2019, mas ela têm sido contestada judicialmente e ainda pode ser revogada por decisão da Suprema Corte mexicana.
Outros impasses referentes ao novo acordo ainda não foram resolvidos. Dentre eles, está o fato de o governo mexicano ainda não ter legalizado a importação de produtos agrícolas geneticamente modificados dos Estados Unidos.
Além da celebração do início do USCMA e da assinatura de uma declaração conjunta de “amizade e cooperação”, López Obrador e Trump ainda discutiram contratos de bilhões de dólares entre o governo mexicano e indústrias americanas do setor de energia. Considerado um populista de esquerda, AMLO considera a possibilidade de estatizar o setor de energia no México, revertendo a abertura desse mercado aos investidores estrangeiros iniciada em 2013. Uma autoridade do governo americano disse na segunda-feira 7 que o governo do México se comprometeu a manter os contratos com as empresas americanas.
Outra pauta do encontro foi a busca de uma “solução a longo prazo para a imigração ilegal”. Mas os dois líderes não deram detalhes sobre isso.
(Com Reuters)