Príncipe Andrew: encrenca que não acaba
O segundo filho da rainha Elizabeth virou alvo de um processo por assédio, abusos e estupro
Do lado de lá do Atlântico, outro Andrew — este um príncipe, segundo filho da rainha Elizabeth — encrencou-se ainda mais em outro escândalo de assédio: aquele em que o milionário americano Jeffrey Epstein é acusado de explorar sexualmente, durante décadas, dezenas de garotas, muitas delas menores de idade, que em diversas ocasiões “emprestou” a seu poderoso grupo de amigos. O príncipe Andrew, 61 anos, era visita frequente nas mansões de Epstein, que se suicidou na cadeia há dois anos. Convidado pela Justiça americana a testemunhar sobre os hábitos do amigo, nunca apareceu. Agora, virou, ele próprio, alvo de um processo: Virginia Giuffre, 38 anos, uma das mais persistentes acusadoras de Epstein, entrou com uma ação em um tribunal de Manhattan em que denuncia Andrew por assédio, abusos e estupro — tudo quando ela tinha 17 anos. “A riqueza, o poder, a posição e as conexões de Andrew permitiram que abusasse de uma criança fragilizada e vulnerável, que não tinha quem a protegesse”, diz o documento.
A ação civil pede uma indenização por danos, a ser determinada pela Justiça. Os advogados afirmam que Andrew não respondeu a cartas e e-mails e ignorou todas as tentativas de negociação de um acordo. A acusação não é nova: Virginia há anos inclui o príncipe entre seus abusadores e uma foto divulgada uma década atrás, no âmbito do primeiro processo contra o milionário predador na Flórida, mostra Andrew sorridente, com o braço em volta da cintura dela, então adolescente e de sobrenome Roberts. Na época, o Palácio de Buckinghan negou “qualquer forma de contato ou relacionamento sexual” entre os dois. Agora, não se manifestou. Em 2019, quando Epstein foi preso em Nova York, Andrew voltou ao centro das investigações e decidiu dar a primeira entrevista sobre o assunto. Foi um desastre — ele tratou as denúncias com displicência, não condenou o amigo criminoso e sugeriu que a foto era manipulada. Acabou afastado de todas as funções reais. Com o processo aberto agora, tem três opções: comparecer ao tribunal, o que é impensável, aceitar um acordo, suprema humilhação depois da negativa categórica de assédio, ou não pisar mais nos Estados Unidos. Na terça-feira 10, foi visto chegando ao Castelo de Balmoral, na Escócia, para mais uma difícil conversa com a rainha — de quem, a essa altura, deve ter deixado de ser o filho preferido.
Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751