Príncipe Charles reúne-se com presidente de Cuba em visita histórica
Excursão de três dias faz parte da estratégia de normalização mais ampla das relações da ilha com o Ocidente
O príncipe herdeiro Charles e sua mulher, Camilla, se encontraram com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, nesta segunda-feira 25. Esta é a primeira visita oficial de membros da realeza britânica à ilha caribenha, realizada apesar de o atual governo dos Estados Unidos, os maiores aliados do Reino Unido, ter retomado a política de isolamento do regime comunista.
O encontro no Palácio Presidencial da Revolução coroou o primeiro dia completo do casal em Havana, durante o qual passearam pelo centro colonial da cidade, inauguraram uma estátua do dramaturgo britânico Shakespeare e visitaram o estúdio de dança de Carlos Acosta, ex-astro do Royal Ballet, de Londres.
A excursão de três dias tem o objetivo de fortalecer os laços britânico-cubanos e deriva da normalização mais ampla das relações da ilha com o Ocidente, apesar de o governo de Donald Trump ter revertido a reaproximação com Cuba iniciada pelo seu antecessor, Barack Obama.
Washington também culpa Cuba pela atual crise econômica e humanitária na Venezuela, sua aliada de esquerda.
Como é tradição nas visitas oficiais, Díaz-Canel e seu convidado passaram em revista as tropas no Palácio da Revolução, sede do governo, e posteriormente se reuniram acompanhados das suas respectivas delegações.
“Durante o cordial encontro falaram sobre o positivo estado das relações bilaterais, baseadas na cooperação e no respeito mútuo. Além disso, concordaram na vontade de desenvolver os vínculos em áreas como educação, saúde, cultura, proteção do meio ambiente e desenvolvimento sustentável”, afirma a breve nota oficial publicada pelos meios de comunicação estatais de Cuba.
Após o encontro, Díaz-Canel ofereceu um jantar de gala a seus hóspedes.
Na segunda-feira, o secretário das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, disse por telefone ao chanceler cubano, Bruno Rodríguez, que espera intensificar a cooperação bilateral a partir da visita do príncipe herdeiro. Também pediu a Cuba que desempenhe um “papel mais construtivo para resolver a crise venezuelana”.
“Estamos honrados em recebê-los e lhes mostrar com orgulho a nação que somos”, tuitou Díaz-Canel, que substituiu Raúl Castro como presidente. “A visita expressa o bom estado de nossas relações”.
Nesta terça-feira, 26, Charles e Camilla participaram de uma atividade cultural no Parque John Lennon de Havana e de uma cerimônia de início da construção de um parque fotovoltaico de financiamento britânico na Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel, o grande projeto do governo cubano para captar capital estrangeiro.
Na agenda não está prevista, por outro lado, uma reunião com Raúl Castro, que, embora tenha passado há quase um ano a chefia do Estado a Díaz-Canel, permanece à frente do Partido Comunista de Cuba.
Visitas
A reunião e o jantar de gala fecharam a intensa agenda de segunda para o casal real que começou com um passeio por Havana Velha na companhia do historiador da cidade, Eusebio Leal, que lhes mostrou os pontos mais destacados do centro histórico, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1982.
Durante o passeio, que despertou grande expectativa entre os moradores e os vários turistas que visitavam a área, Charles e Camilla passearam pelas mesmas ruas empedradas que as tropas inglesas tomaram durante 11 meses entre 1762 e 1763.
Além disso, prestigiaram um concerto da reconhecida Camerata Romeu, formada apenas por mulheres, na Basílica de São Francisco de Assis, o templo que os soldados escolheram para realizar os ritos protestantes no breve período no qual Havana foi britânica.
Fora do programa oficial divulgado pelas autoridades cubanas, os príncipes visitaram o projeto comunitário Muraleando, onde assistiram a um espetáculo infantil, e também desfrutaram de uma mostra de coreografias na sede da Acosta Danza, a companhia de baile contemporâneo fundada por Carlos Acosta.
Já separadamente, o herdeiro britânico teve um encontro com representantes do chamado “cuentapropismo” cubano, o incipiente setor privado da ilha surgido após as reformas econômicas introduzidas na última década por Raúl Castro.
Charles também teve tempo para conhecer um ginásio de boxe e conversar com os jovens e as crianças que ali treinavam.
Por sua parte, a duquesa da Cornualha foi sozinha ao lar materno Doña Leonor Pérez, onde conversou com várias mulheres grávidas.
Como curiosidade, nas redes sociais alguns internautas cubanos lembraram que há três anos aterrissavam em Havana outros ilustres britânicos, nesse caso representantes da realeza musical: os Rolling Stones, que protagonizaram um histórico show gratuito em um país no qual há poucas décadas o rock estava proibido.
(Com Reuters, EFE e AFP)