As prisões da Coreia do Norte são “tão terríveis ou até piores” do que os campos de concentração nazistas, afirmou um juiz de direitos humanos que sobreviveu a Auschwitz.
Thomas Buergenthal, que passou por dois campos de concentração nazistas e um gueto polonês durante o Holocausto, chegou a essa controversa conclusão depois de ouvir depoimentos sobre as prisões norte-coreanas por mais de 35 anos.
Ele é um dos três juízes encarregados de colher testemunhos de sobrevivente e ex-guardas de prisioneiros políticos do regime de Kim Jong-un para uma investigação sobre violação de direitos humanos conduzida pela Associação Internacional de Advogados.
“Eu acredito que as condições nos campos de prisão norte-coreanos são tão terríveis, ou ainda piores, do que as que vi e experimentei na minha juventude nesses campos nazistas e na minha longa carreira profissional no campo dos direitos humanos”, afirmou Buergenthal, de 83 anos, ao jornal Washington Post.
Nascido em Ľubochňa, na Eslováquia, o juiz esteve nos campos de concentração de Auschwitz e Sachsenhausen quando criança, além de no gueto de Kielce, na Polônia. Buergenthal serviu no Tribunal Penal Internacional entre 2000 e 2010.
Nos últimos 35 anos, trabalhou no relatório sobre direitos humanos na Coreia do Norte. Junto a outros dois colegas, concluiu que Kim Jong-un e seu regime devem ser acusados de 10 dos 11 crimes de guerra reconhecidos internacionalmente, incluindo assassinato, escravidão, tortura e violência sexual.
O relatório cita casos de prisioneiros que foram executados após serem pegos comendo sem permissão e inúmeros relatos de morte por desnutrição ou excesso de trabalho, às vezes resultado de 20 horas seguidas de escavação em minas. Os juízes também ouviram sobre estupros e abortos forçados, muitos dos quais levaram à morte das mulheres.
Um sobrevivente dos campos prisões, um médico que foi pego tentando fugir para a China, disse que foi despido e pendurado de cabeça para baixo. Os soldados então o agrediram, torturaram e colocaram água com pimenta em seu nariz e boca.
Segundo o comissário de direitos humanos das Nações Unidas, Zeid Ra’ad al Hussein, existem atualmente cinco campos prisões na Coreia do Norte. Ele também confirma casos de tortura, desnutrição e trabalho forçado.