Profissionais da saúde enfrentam hostilidade na América Latina
Medo de contaminação tem gerado agressões verbais e físicas a médicos, enfermeiros e outros profissionais que ajudam a combater a pandemia de coronavírus
Apesar de desempenharem um papel fundamental no combate à pandemia de coronavírus, profissionais da saúde, celebrados pelo papa Francisco como “heróis de guerra”, vêm sendo tratados com hostilidade em países da América Latina. É o que mostra reportagem da agência Reuters publicada nesta quarta-feira, 15, com relatos de funcionários de hospitais agredidos física e verbalmente.
A reportagem informa que enfermeiros representam 80% da equipe nos hospitais públicos da América Latina e são, portanto, indispensáveis na resposta à pandemia que já infectou mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo.
Sandra Aleman, uma enfermeira da cidade de San Luis Potosi, no centro do México, contou ter sido vítima de ataque de um grupo de crianças, que atirou suco e refrigerante em seu uniforme branco, gritando “É Covid-19. Fique longe de nós!” Em seguida, ela foi atingida no rosto por uma mulher, que acredita ser a mãe dos garotos, e caiu no chão.
“Tentando me defender por usar orgulhosamente meu uniforme branco, quebrei dois dedos da minha mão direita. Não posso mais fazer meu trabalho ”, disse ela, que não havia tratado de nenhum paciente com coronavírus. Outros incidentes semelhantes foram registrados no México, o que levou o presidente Andrés Manuel Lopez Obrador, a se manifestar. “Peço respeitosamente a toda a população para cuidar dos trabalhadores da saúde, respeitá-los, amá-los.”
Em Bogotá, capital da Colômbia, o anestesiologista Santiago Osorio, 36, disse que não pode mais usar elevadores ou áreas comuns em seu apartamento sob ordens da administração do edifício, que teme que ele possa infectar os vizinhos. “Eu tenho que subir os seis andares por escadas para chegar em casa.”
Maria Jose Colina, médica e porta-voz da Rede Integral de Médicos da Argentina, contou à Reuters que vários colegas receberam mensagens e comentários agressivos, incluindo ameaças, mesmo em suas casas. O obstetra Leandro Goñi disse que os vizinhos de seu consultório em Buenos Aires disseram que ele deveria fecha-lo porque sua prática os colocava em risco. Ele respondeu com uma carta descrevendo as medidas de precaução que havia tomado, incluindo apenas receber mulheres próximas a dar à luz.
Em algumas partes do Panamá e do Chile, motoristas baniram as enfermeiras do transporte público. Nas áreas onde eles permitem, outros passageiros costumam olhar feio e se afastar, dizem grupos médicos. Profissionais do setor acreditam que muitos outros incidentes acontecem em todo o mundo, mas não são relatados por medo de retaliação.