A promotoria federal dos Estados Unidos pedirá pena de morte para Robert Bowers, americano de 46 anos preso após o ataque que deixou 11 mortos em uma sinagoga de Pittsburgh, na Pensilvânia
Ele vai ser indiciado por 29 crimes, incluindo obstrução do livre exercício das crenças religiosas – crime de ódio nos Estados Unidos – e uso de arma de fogo para cometer assassinatos. Bowers será levado perante um juiz nesta segunda-feira (29).
Segundo as autoridades locais, o atirador fez uma série de declarações antissemitas antes de iniciar o ataque na sinagoga e mesmo depois de ser preso.
“Durante seu ataque contra as pessoas na sinagoga, Bowers citou o genocídio e seu desejo de matar os judeus”, afirmou Scott Brady, promotor do distrito oeste da Pensilvânia. Segundo testemunhas ouvidas no sábado, o homem gritou: “Todos os judeus devem morrer”.
“Ele carregava várias armas de fogo, incluindo três revólveres e um fuzil semiautomático AR-15”, completou o promotor.
Brady também explicou que o caso será tratado como um crime de ódio, não um ato de terrorismo doméstico. “Não há indícios de que mais alguém estivesse colaborando com ele, razão pela qual será tratado como um crime de ódio, mas seguimos investigando”, declarou promotor.
Bowers também responderá a acusações criminais estaduais, incluindo 11 acusações de homicídio, 6 de ataque agravado e 13 de intimidação étnica.
Ferido durante a troca de tiros com policiais, ele foi operado e está hospitalizado em condição estável.
A pena de morte é adotada em 30 dos 50 estados americanos e o Distrito de Columbia (Washington). Na Pensilvânia, ainda está prevista pelo Código Penal, mas não tem sido aplicada nos últimos 20 anos.
Identificação
As 11 pessoas mortas no sábado pelo atirador foram identificadas e suas famílias notificadas, disseram no domingo as autoridades locais.
“Após um trabalho difícil dos legistas, as 11 vítimas foram identificadas”, afirmou Robert Jones, agente do FBI que comanda a investigação. Ele afirmou que o ataque à sinagoga foi “a cena de crime mais horrível” que já viu nos 22 anos em que trabalha para a polícia federal americana.
As pessoas mortas têm entre 54 e 97 anos e são três mulheres e oito homens. Todas são naturais de Pittsburgh ou de seus arredores.
As vítimas são um casal, Sylvan e Bernice Simon, de 86 e 84 anos, dois irmãos, Cecil e David Rosenthal, de 59 e 54 anos, Joyce Fienberg, de 75 anos, Richard Gottfried, de 65 anos, Rose Mallinger, de 97 anos, Jerry Rabinowitz, de 66 anos, Daniel Stein, de 71 anos, Melvin Wax, de 88 anos, e Irving Younger, de 69 anos. As autoridades estimam que necessitarão de ao menos uma semana para examinar e limpar a cena do crime.
Controle de armas
O prefeito de Pittsburgh, Bill Peduto, disse que o sábado foi o dia “mais sombrio da história da cidade”, mas pediu à população que se una para que suas vidas sigam em frente. “Sabemos que o ódio nunca vencerá, que aqueles que tentam nos dividir por causa da maneira pela qual oramos, ou de onde nossas famílias são, vão perder.”
O democrata também relançou o controvertido debate sobre as armas de fogo em um país onde massacres como esse se tornaram frequentes. “Ouvi o presidente dizer que devemos armar os guardas em nossas sinagogas”, declarou. “Nossa abordagem deveria ser: como retirar armas de fogo das mãos dos que querem expressar seu ódio racista com assassinatos.”
No sábado, o presidente Donald Trump defendeu a pena de morte aos autores de massacres no país e criticou o fato de que as pessoas não tivessem armas para se defender do atirador.
“Se eles tivessem proteção dentro (sinagoga), os resultados teriam sido muito melhores. Este é um ataque que sempre existirá, eu suspeito, mas se eles tivessem algum tipo de proteção dentro da sinagoga, talvez a situação tivesse sido muito diferente. Eles poderiam fazer algo que não puderam”, afirmou. “Algumas pessoas podem discordar, mas nós devemos endurecer as leis para a pena de morte. É muito triste ver isso acontecer de novo, e se repetir, é terrível, é uma pena.”
Trump repetiu várias vezes que o ataque foi “terrível”. Sua mensagem, porém, respalda os argumentos dos setores mais conservadores da sociedade americana, como os da Associação Nacional do Rifle (NRA), a apenas dez dias das eleições legislativas nos Estados Unidos.
Trump pretende evitar a perda da maioria das cadeiras da Câmara dos Deputados e do Senado, hoje em mãos de seu partido, o Republicano.
(Com Estadão Conteúdo)