Protestos antirracismo: de joelhos, em gesto de respeito
Morte de George Floyd reverberou nos Estados Unidos em uma profusão de ações
Cercado de comoção, o corpo de George Floyd (negro) foi enterrado na terça-feira 9 em Houston, no Texas — ele morreu asfixiado quando o policial (branco) Derek Chauvin pressionou o joelho em seu pescoço, enquanto celulares filmavam a cena dantesca. O episódio desencadeou os mais violentos e abrangentes protestos contra o racismo nos Estados Unidos nos últimos cinquenta anos e reverberou em uma profusão de ações que vão do comovente ao respeitoso, passando pelas habituais estultices no Twitter presidencial. No Salão da Emancipação, assim chamado para homenagear os escravos que trabalharam na construção do Capitólio, deputados democratas apresentaram uma proposta de reforma das polícias americanas e, tendo à frente a presidente da Câmara, Nancy Pelosi (de terninho laranja), postaram-se por oito minutos e 46 segundos — o tempo da asfixia de Floyd — apoiados sobre um joelho, taking a knee. O gesto virou símbolo da luta antirracismo quando foi inaugurado — para protestar contra o tratamento aos negros — pelo jogador de futebol americano Colin Kaepernick, em pleno campo, na hora da execução do hino nacional, em 2016. Já Trump, que se limitou a declarações pró-forma sobre a morte de Floyd e pregou o uso da força contra os manifestantes, superou-se ao proferir, em fala autocongratulatória pela queda do desemprego no início do mês: “Tomara que George esteja vendo lá de cima e admirando esta coisa maravilhosa que aconteceu no nosso país”. Pegou muito, muito mal.
Publicado em VEJA de 17 de junho de 2020, edição nº 2691