Protestos contra o isolamento podem ter piorado o número de casos nos EUA
Foram analisados dados de cinco estados que tiveram atos contrários ao confinamento; apenas em Winconsin 72 pessoas foram infectadas
Dados de localização coletados em celulares de manifestantes que participaram de protestos contra as medidas de isolamento nos Estados Unidos sugerem que a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, possa ter se propagado ainda mais no país, o mais afetado pela pandemia no mundo, durante os atos.
Segundo reportagem do jornal The Guardian publicada nesta segunda-feira, 18, os dados foram compilados pelo Comitê de Proteção da Saúde Publica através de aplicativos que coletam informações de maneira consentida e analisados por cientistas de dados da empresa VoteMap, de maneira que se preservasse o anonimato.
ASSINE VEJA
Clique e AssineForam analisados dados de cinco estados que tiveram manifestações contra o confinamento decretado pelos governos locais: Michigan, Winconsin, Illinois, Colorado e Flórida. O resultado apresentado pelos cientistas mostrou os movimentos feitos por aqueles dispositivos até 48 horas após os protestos somente dentro das fronteiras desses estados.
Em Winconsin, após os protestos de 24 de abril, 72 manifestantes testaram positivo para a doença. Segundo a análise da VoteMap, os dispositivos que participaram dessas demonstrações retornaram a pequenas cidades, como Green Bay e Wausau, e também atravessaram as fronteiras de Minnesota e Illinois.
Depois dos protestos do dia 30 de abril em Lansing, no Michigan, onde manifestantes participaram armados com fuzis em frente ao Capitólio enquanto forças de segurança tiveram que criar uma barreira que protegesse a governadora democrata Gretchen Whitmer, os dispositivos se espalharam por todo o estado. Desde Detroit até as cidades mais distantes ao norte.
O padrão segue em todos os outros estados analisados. Primeiro uma concentração grande de pessoas e depois a dispersão para o interior e além das fronteiras estaduais.
Na Carolina do Norte, que não está presente no estudo, Audrey Whitlock, líder do movimento que pede a reabertura do país independente do número de casos e mortes, testou positivo para o vírus após ter participado de um protesto. Whitlock, no entanto, disse, em sua página em uma rede social, que continuará a ir em manifestações.
Todas as manifestações pedem pela reabertura econômica do país e alegam que os governos estaduais atentam contra a Constituição por intervirem nas liberdades individuais. Essas demonstrações recebem apoio explícito do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mesmo que ofereçam risco à saúde publica.
Atualmente, os Estados Unidos são palco do pior cenário da pandemia. Com 1.487.447 casos da doença, o país registra 89.567 mortes, segundo dados da Universidade Johns Hopkings, que monitora o surto em tempo real. Logo atrás vem a Rússia, com 290.678 infectados e 2.722 mortos.
O doutor Rob Davidson, diretor executivo do Comitê de Proteção da Saúde Publica, disse ao The Guardian que os dados sugerem que os protestos podem ser eventos epidemiológicos significantes e que “o comportamento das manifestações oferecem risco de infecção. Podemos ver que os manifestantes atendem a um evento altamente concentrado para se dispersarem amplamente”.