Os protestos antigoverno que tomaram o Irã completaram 100 dias nesta segunda-feira, 26, sem sinais de que haverá algum recuo próximo naquele que, para alguns analistas, já é o maior ato revolucionário desde a Revolução Islâmica de 1979.
De acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, mais de 500 pessoas foram mortas desde o início das manifestações, em 16 de setembro, incluindo 69 crianças. Além disso, dois manifestantes foram executados pelos atos insurgentes e outros 26 foram condenados à morte pelo governo iraniano.
O movimento de protestos no Irã foi desencadeado pela morte de Mahsa Amini, uma mulher curda-iraniana que morreu sob a custódia da polícia moral. Segundo eles, ela foi presa por usar o hijab, lenço iraniano que cobre a cabeça, da maneira errada.
As autoridades, como é de praxe no país, responderam com violência e repressão, e espancado e atirando contra os manifestantes. O Irã também impôs bloqueios ao acesso à Internet, para impedir que os protestos se espalhassem e fossem divulgados para a comunidade internacional.
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Embora o Irã tenha registrado manifestações ao longo dos anos, os atos de 2022 são únicos pois envolvem indivíduos de várias camadas sociais e fez com que as mulheres assumissem um papel de liderança sob o slogan “Mulher, Vida e Liberdade”.
O movimento contou, inclusive, com o apoio de personalidades famosas da sociedade iraniana, como a atriz Taraneh Alidoosti, que está detida em uma prisão depois de condenar a execução de um jovem manifestante. Ela também havia publicado anteriormente uma foto sua sem o hijab, lenço obrigatório para as mulheres, segurando uma placa a favor dos atos.
Outros dois atores, Hamid Farrokhnezhad e Pegah Ahangarani, precisaram deixar o país para não serem presos pelo governo, ao mesmo tempo que um dos ex-jogadores mais famosos do Irã, Ali Karimi, disse que precisou se mudar para os Estados Unidos depois de receber ameaças de morte de agentes da inteligência iraniana.
Mesmo com o apoio dos famosos, quem assumiu a vanguarda dos protestos foram as mulheres da geração Z, desafiando regras religiosas rígidas e estabelecendo novas tendências, como a remoção dos hijab, o véu islâmico amplamente usado no país.
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Para tentar reprimir os atos dos manifestantes, o governo iraniano tem feito uso de torturas e execuções, como o caso de Arshia Emamgholizadeh, de 16 anos, que esteve detido por 10 dias acusado de “jogar turbantes”. De acordo com sua família, ele foi agredido frequentemente durante o período e foi obrigado a tomar pílulas desconhecidas, tratamento que fez com que ele se suicidasse dois dias depois.
No mais recente desdobramento, em meado de dezembro, o Irã foi expulso de uma comissão temática das Nações Unidas encarregada de empoderar as mulheres. Durante a sessão, 29 dos 54 países votaram a favor de uma moção apresentada pelos Estados Unidos que afirmava que a adesão do Irã à comissão era uma “mancha feia” para a credibilidade do grupo.
Ativistas e grupos de direitos humanos afirmaram que o papel iraniano na Comissão sobre o Status da Mulher tem sido uma farsa, à medida que surgem relatos de que autoridades iranianas têm espancado e matado mulheres, se tornando o alvo principal nos protestos e que as forças de segurança tem atirado em seus rostos, seios e órgãos genitais.
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