Vladimir Putin foi reeleito presidente da Rússia neste domingo com 76,7% dos votos, quebrando o recorde de número de votos em uma eleição russa. A vitória esmagadora reforça sua posição na crise com os países ocidentais e garante sua permanência no poder até 2024.
Putin está à frente da Rússia, como presidente ou como primeiro-ministro, desde 1999. Ao ser questionado se voltaria a disputar eleições, Putin respondeu: “Ficar aqui até 100 anos? Não”.
O russo conquistou uma vitória sem precedentes em seus 18 anos de poder, em uma eleição que registrou uma taxa de comparecimento de 67,98% do eleitorado, segundo a Comissão Eleitoral Central (CEC). O número é superior ao do pleito de 2012.
A oposição e várias ONGs denunciaram milhares de irregularidades, como voos depositados com antecedência nas urnas ou o transporte de trabalhadores em ônibus até locais de votação, pressionados por seus chefes.
Recorde
Putin obteve 56,2 milhões de votos na eleição deste domingo. O recorde anterior de maior número de votos para um candidato era de Dmitry Medvedev, que em 2008 conquistou 52,5 milhões de votos com taxa de participação de quase 70%.
O presidente russo também superou o próprio recorde das eleições de 2012, quando recebeu 45,6 milhões de votos ao retornar ao Kremlin após quatro anos exercendo o cargo de primeiro-ministro.
Os 56,2 milhões de votos de Putin não incluem o apoio que recebeu na Crimeia, península ucraniana anexada à força há exatamente quatro anos e cujos moradores participaram neste domingo pela primeira vez de eleições presidenciais. Na região, o russo conquistou quase 1 milhão de votos, mais de 90%.
Irregularidades
A oposição russa, liderada pelo principal rival de Putin, Alexei Navalny, impedido de disputar eleições até 2024 por uma condenação judicial e que pediu o boicote da votação de domingo, acusa as autoridades de falsificar o índice de participação recorrendo a fraudes como preencher urnas ou organizar o transporte de eleitores.
“A vitória de Putin com mais de 70% foi decidida de antemão”, disse Navalny à imprensa. Ele disse que prosseguirá com os pedidos de manifestações, “a única forma de ter uma luta política na Rússia”.
A ONG Golos, especializada em supervisionar eleições, disponibilizou um mapa das fraudes em seu site na internet, no qual denuncia mais de 2.900 irregularidades.
Edward Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, refugiado na Rússia desde suas revelações sobre o gigantesco sistema de vigilância dos Estados Unidos, divulgou no Twitter um vídeo que mostra o que considera o preenchimento de uma urna. “Exijam justiça. Exijam leis e tribunais que façam sentido”, escreveu.
A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, considerou, no entanto, que as irregularidades foram “relativamente baixas” e acrescentou que a votação foi transparente.
Conflito com o ocidente
A Rússia voltou ao centro do cenário internacional ao custo de um clima de tensão com os países ocidentais, algo que não era registrado desde o fim da Guerra Fria.
O conflito na Síria, a crise ucraniana ou as acusações de interferência russa na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos alimentam o confronto Leste-Oeste, que aumentou na semana passada quando Londres acusou Moscou de ter envenenado um ex-espião russo no Reino Unido.
No domingo, em sua primeira entrevista coletiva após a vitória, Putin afirmou que acusar a Rússia por este caso não faz nenhum sentido, mas acrescentou que Moscou está “disposto a cooperar” com Londres na investigação.
Para alguns analistas, esta crise, que provocou a expulsão recíproca de diplomatas, fortaleceu Putin, cuja popularidade é cada vez mais baseada na política externa, enquanto o nível de vida dos russos prossegue em queda.
“Temos que agradecer ao Reino Unido porque mais uma vez não entenderam a maneira de pensar russa. Mais uma vez nos pressionaram justamente no momento em que precisávamos de mobilização”, disse Andrey Kondrashov, porta-voz da campanha de Putin, citado pelo jornal Kommersant.
“’Diabolizar’ Putin no Ocidente teve o efeito inverso na Rússia, um apoio sem precedentes de sua figura”, afirmou o senador russo Alexei Pushkov.
A eleição aconteceu, de modo simbólico, no quarto aniversário da ratificação da anexação da Crimeia pela Rússia.
(Com AFP)