Putin fala em conflito global e diz que Rússia está ‘pronta para combate’
O líder russo fez discurso duro durante grande evento que marca a vitória da União Soviética contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial
O presidente russo, Vladimir Putin, voltou a acusar o Ocidente nesta quinta-feira, 9, de colocar o mundo em risco de um conflito global, afirmando que nenhum país pode ameaçar seu país, que chamou de “a maior potência nuclear do mundo”. Ele também ressaltou que seus militares estão “prontos para combate”. As declarações foram dadas durante um discurso no evento que comemora a vitória da União Soviética contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
O chefe do Kremlin, que lidera uma invasão em grande escala à Ucrânia, acusou as elites ocidentais “arrogantes” de esquecerem o papel decisivo da União Soviética na derrota do regime de Adolf Hitler, além de dizer que alimentam conflitos em todo o mundo.
“Sabemos aonde leva a exorbitância de tais ambições. A Rússia fará tudo para evitar um confronto global”, disse Putin na Praça Vermelha, diante de membros do exército, em meio a uma inusitada nevasca de maio. “Mas, ao mesmo tempo, não permitiremos que ninguém nos ameace. Nossas forças estratégicas estão sempre em estado de prontidão para o combate.”
Risco de uma guerra global
Recentemente, as autoridades russas alertaram que a guerra na Ucrânia entrou na sua fase mais perigosa. Putin apontou repetidamente para o risco de um conflito muito mais amplo, envolvendo as maiores potências nucleares do mundo.
A crise aprofundou-se nas últimas semanas: o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu aval final a um aporte de US$ 61 bilhões em ajuda à Ucrânia; o Reino Unido disse que Kiev tinha o direito de atacar a Rússia com armas britânicas, e o presidente francês, Emmanuel Macron, recusou-se a descartar o envio de soldados francesas para combater as forças russas.
Na segunda-feira, o Kremlin respondeu anunciando que incluiria armas nucleares táticas em um exercício militar, caracterizando as posturas americana, britânica e francesa como ameaças.
Conflito contra o Ocidente
Depois de invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022, Putin repetidamente classificou a guerra como parte de uma luta mais ampla da Rússia contra o Ocidente. Segundo ele, nações europeias e os Estados Unidos humilharam Moscou depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. Os russos consideram o território ucraniano como uma esfera de influência.
Enquanto isso, Kiev, Washington e Bruxelas acusam Putin de realizar uma apropriação de terras ao estilo dos antigos impérios. A Rússia atualmente controla cerca de 18% do território ucraniano, incluindo a Crimeia e partes de quatro regiões no leste do país. Moscou diz ter anexado essas terras, que antes faziam parte do império russo.
Dia da Vitória
A União Soviética perdeu 27 milhões de vidas na Segunda Guerra, incluindo muitos milhões na Ucrânia, mas foi vital para empurrar as forças nazistas de volta para Berlim. A rendição ocorreu em 9 de maio de 1954, que os russos hoje comemoram como o “Dia da Vitória”.
“No Ocidente, gostariam de esquecer as lições da Segunda Guerra Mundial”, disse Putin. “Mas lembramos que o destino da humanidade foi decidido nas grandes batalhas perto de Moscou e Leningrado, Rzhev, Stalingrado, Kursk e Kharkiv, perto de Minsk, Smolensk e Kiev, em batalhas pesadas e sangrentas de Murmansk ao Cáucaso e à Crimeia.”
Num desfile militar bastante reduzido, indicando as tensões da guerra, a Rússia exibiu apenas um tanque T-34. Alguns caças passaram voando, soltando fumaça das cores da bandeira russa – branco, azul e vermelho. O evento também contou com a participação do míssil estratégico intercontinental russo Yars, que a mídia local disse ter “capacidade garantida de atingir um alvo em qualquer ponto do globo”.
Como esperado, não havia líderes do Ocidente na cerimônia, mas marcaram presença os chefes de Estado de Belarus, Cazaquistão, Quirguizistão, Tajiquistão, Turquemenistão, Uzbequistão, Cuba, Laos e Guiné-Bissau.