Putin: Rússia está pronta para conversas sobre segurança com EUA e Otan
Fala ocorre após anúncio da retirada parcial de tropas da fronteira com Ucrânia; autoridades ocidentais dizem ainda não haver provas de recuo
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta terça-feira, 15, que está pronto para conversas com os Estados Unidos e a Otan, principal aliança militar ocidental, sobre limites para implantação de mísseis de médio alcance e maior transparência militar, em um novo sinal de um possível alívio às tensões na região.
A declaração de Putin foi feita poucas horas depois do anúncio oficial do Ministério da Defesa russo de que irá retirar uma parte das tropas em torno da Ucrânia. Não há detalhes, no entanto, sobre o número de militares realocados.
Em fala após reunião com o chanceler alemão, Olaf Scholz, o líder russo disse que o governo americano rejeitou as exigências de Moscou de manter a Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas fora da Otan, interromper o envio de armas perto das fronteiras russas e retirar as forças militares do leste europeu.
Washington e a aliança, no entanto, se mostraram dispostos a discutir uma série de medidas de segurança propostas anteriormente por Moscou.
Segundo Putin, a Rússia está disposta a entrar em negociações sobre limites para mísseis de alcance intermediário na Europa, além de transparência de exercícios militares e outras medidas que poderiam render frutos na construção de confiança entre as partes. Ele enfatizou, apesar disso, a necessidade de que o Ocidente tenda as principais demandas russas.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma confirmação terá consequências graves. Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, ressaltou após encontro desta terça-feira que uma resolução diplomática para a crise segue como opção, completando que o anúncio da retirada parcial é um bom sinal e que espera que outras medidas parecidas sejam tomadas.
O anúncio de desmobilização parcial feito pelo Kremlin ocorre um dia depois do ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, indicar que o país estava pronto para conversar com os países ocidentais sobre as queixas de segurança, em uma clara mudança de tom.
O governo ucraniano, no entanto, expressou ceticismo.
“Não vamos acreditar quando ouvirmos, mas sim quando virmos. Quando for possível vir as tropas saindo, vamos acreditar na desescalada”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.
De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, há, atualmente, mais de 127.000 soldados russos posicionados perto de seus limites. A Rússia cercou o norte do país vizinho, onde a fronteira é mais desguarnecida, posicionando seu Exército como uma ferradura, cercando a região por três lados, incluindo em territórios de Belarus, de quem é aliada.
O tom é similar ao empregado por autoridades ocidentais. De acordo com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, os dados da inteligência mais recentes sobre a presença militar russa criam “sinais mistos”.
“Vemos a abertura russa para conversas. Do outro lado, a inteligência que temos hoje ainda não é encorajadora”, disse a repórteres.
Por outro lado, segundo ele, “vemos hospitais de campanha russos sendo construídos perto da fronteira com a Ucrânia, em Belarus, para o que pode ser construído apenas para uma preparação para uma invasão”. Além disso, “há grupos táticos na realidade chegando mais perto da fronteira com a Ucrânia”, de acordo com o premiê.
Por parte de Washington, a embaixadora americana para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, Julianne Smith, afirmou que os EUA estão “monitorando a situação” e ainda “irão verificar” as afirmações de uma possível desmobilização.