Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Quatro crianças brasileiras serão liberadas de centros de reclusão nos EUA

Os 49 menores separados de seus pais e parentes estão mantidas em 15 instituições especializadas; Itamaraty não identificou nenhum caso de criança em jaula

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 23 jun 2018, 15h40 - Publicado em 23 jun 2018, 15h31

Quatro das 49 crianças brasileiras separadas de suas famílias nos Estados Unidos serão entregues por autoridades americanas a parentes no país e no Brasil nos próximos dias, informou o Ministério das Relações Exteriores. A partir de uma lista formulada pelo Departamento de Saúde americano e de informações do seus consulado brasileiros nos Estados Unidos, o Itamaraty concluiu não haver, até a última sexta-feira (22), nenhum menor do Brasil detido nas instalações improvisadas, nas quais crianças têm sido mantidas dentro de jaulas de arame.

Segundo a embaixadora Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Itamaraty, três irmãos abrigados na instituição Southwest Key de Tucson, no Arizona, serão entregues a um parente residente nos Estados Unidos. A mãe, presa na mesma cidade, concedeu uma procuração a um familiar, e sua decisão foi acolhida por um tribunal local de imigração.

O embaixador Enio Cordeiro, cônsul-geral do Brasil em Nova York, afirmou a VEJA que um menino de sete anos abrigado na instituição Mercy First, em Syosset, no Estado de Nova York, deverá ser restituído à mãe, no Brasil, nos próximos dias. O pai cruzou a fronteira com o menino, mas foi preso pela Patrulha da Fronteira. A mãe, que aguardava alguns dias no México para realizar a travessia com o outro filho, foi avisada da prisão e retornou ao interior de Minas Gerais, onde residia.

Continua após a publicidade

Segundo Cordeiro, o Consulado foi informado sobre a presença do menino brasileiro por uma psicóloga que trabalha no Mercy First e que entende português. Uma advogada voluntária está conduzindo seu caso em um tribunal que julga casos de imigrantes e já fez a primeira das três visitas ao menino requeridas pela corte. 

“O desfecho previsto é a entrega do menino à mãe, por um oficial de Imigração dos Estados Unidos, no Brasil”, afirmou o embaixador. “Visitamos o menino duas vezes e constatamos que ele está recebendo um atendimento adequado. Mas nada substitui a presença da família e o contato com pessoas próximas”, completou.

A maior parte das 49 crianças brasileiras – 29 delas – está alojada em duas instituições de referência no acolhimento de menores de Chicago: a Heartland Guadalupe e a Heartland International Childrens. O restante está dividida em outras 13 entidades, muitas das quais centros de referência no atendimento a crianças.

Continua após a publicidade

A embaixadora Luiza Lopes explicou que, há dois anos, essas duas entidades passaram a receber mais crianças brasileiras, consideradas “desacompanhadas” pelas autoridades migratórias americanas da fronteira Sul. Nesses casos se encaixam os menores cujos acompanhantes não são, comprovadamente, seus pais.

Na época, o governo de Barack Obama se concentrava na identificação de casos de tráfico de humanos – especialmente, de crianças. Também na mesma ocasião, uma legislação foi adotada para impedir que menores ficassem detidos por mais de 20 dias. Dessa forma, começaram a ser separados de seus país, que permaneceriam presos até a conclusão do processo por imigração ilegal.

Com a adoção da política de tolerância zero à imigração ilegal pelo governo de Donald Trump, em abril passado, o quadro se tornou mais grave e caótico. Os imigrantes pegos pelas forças de segurança passaram imediatamente a responder um processo judicial por ingresso ilegal no país, e os menores foram separados imediatamente deles.

Continua após a publicidade

Sem instalações adequadas na zona de fronteira com o México, centros improvisados foram montados pelo governo para acolher as crianças, como aqueles nos quais elas estão divididas em celas de arame, sem o número adequado de funcionários para cuidar delas. O fato gerou reações dentro dos Estados Unidos e mundo afora. Parte das crianças, no entanto, continua a ser enviada para instituições respeitáveis em outros estados americanos se há vagas.

Na última quarta-feira, pressionado pelas reações na sua base política republicana e em sua própria família, Trump determinou o fim da separação das famílias de imigrantes presos. Seu governo, porém, ainda não divulgou como fará a reunião das famílias e aonde elas serão mantidas, já que menores não podem ficar presos por mais de 20 dias. O Pentágono estuda a transferência de parte das famílias para suas bases militares no país. A situação preocupa especialmente o Itamaraty.

“O governo brasileiro espera que a ordem executiva emitida hoje pelo governo norte-americano implique a efetiva revogação da prática de separação entre os menores e seus pais ou responsáveis”, declarou o Itamaraty, por meio de comunicado, referindo-se ao decreto de Trump de quarta-feira passada.

Continua após a publicidade

O chanceler Aloysio Nunes Ferreira, no dia seguinte, afirmou que a medida traz “um alívio em relação ao trauma inicial, que podemos avaliar quando vimos as imagens na televisão daquelas crianças desesperadas”“Vamos acompanhar a implementação da decisão do presidente Trump de reverter essa medida, que consideramos uma medida cruel”, afirmou.

Adequado, mas triste

Segundo Luiza Lopes, o monitoramento das crianças que chegam e saem das duas entidades de Chicago passou a ser rotineiro para o Consulado brasileiro naquela cidade, assim como as visitas dos agentes consulares às crianças. “A cada mês, temos de quatro a 15 menores brasileiros nessas instituições. Cerca de um terço das crianças, por mês, consegue autorização judicial para retornar a seus familiares nos Estados Unidos ou no Brasil”, disse a embaixadora.

Os processos judiciais, nos casos das crianças, dura 45 dias, em média. Durante o período em que estão alojadas em centros infantis, segundo Luiza, as crianças têm contato com seus familiares e com os agentes consulares, recebem cuidados de Saúde e atenção psicológica e participam de atividades educacionais e recreativas.

Continua após a publicidade

“Elas não estão isoladas e, até para não terem a impressão de estarem presas, são levadas a eventos recreativos fora das entidades”, disse. “O que vimos em recentes imagens, como as crianças em jaulas de arame, não coincide com o tratamento aos menores brasileiros. A situação, porém, não deixa de ser muito triste.”

As outras 17 crianças brasileiras estão divididas em instituições de Tucson, no Arizona, do Texas, da Califórnia e da Flórida, conforme a lista do Departamento de Saúde obtida pelo Consulado-Geral do Brasil em Houston, no Texas, na semana passada. Os consulados do Brasil nesses Estados estão entrando em  contato com as entidades para se certificar da identidade das crianças e das condições de acolhimento. Colocá-las em contato com os pais ou familiares, mesmo que por telefone, é uma das prioridades, assim como rastrear onde seus responsáveis estão detidos.

Segundo Felipe Santarosa, cônsul-adjunto do Brasil em Houston, a lista do Departamento de Saúde é bastante crível. Porém, pode haver mais crianças brasileiras nessas instituições do que as já identificadas. Agentes consulares visitarão duas dessas entidades no Texas – a BCTS Baytown e a Southwest Key Conroe – na próxima semana para checar informações e avaliar a situação dos dos menores.

“A nossa dificuldade está no fato de que as autoridades migratórias americanas não têm obrigação de informar os consulados sobre adultos e crianças detidas. Os Estados Unidos têm acordos com alguns países para prover esse tipo de informação, mas não querem firmar um tratado nesse sentido com o Brasil”, afirmou.

Um dos casos divulgados de criança brasileira separada da família, na semana passada, provou-se falso. O Consulado do Brasil em Hartford, Connecticut, constatou que o menor MGSB, de 17 anos, portador de deficiência mental, já estava há meses sob a guarda de sua mãe, Floriana Divina, residente no mesmo Estado.

O garoto vivia no Brasil com a avó, Maria de Bastos, que decidiu emigrar para os Estados Unidos sem antes avisar Floriana. Maria e MGSB foram capturados no Texas. A avó foi presa, e o menino foi enviado a um centro de acolhimento infantil de Chicago, onde permaneceu por um mês, até ser entregue à mãe. Maria de Bastos, que continua presa no Texas, alega sofrer perseguição policial no Brasil e pede o status de refúgio nos Estados Unidos.

“Esse caso não é incomum, infelizmente. O governo americano quer justamente acabar com a tática dos imigrantes de se valerem de crianças para ingressar nos Estados Unidos”, afirmou o cônsul do Brasil em Hartford, embaixador Fernando de Mello Barreto. “Os brasileiros têm o direito de ir e vir. Por isso, não vamos dar instruções aos brasileiros que possam limitar esse direito.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.