Queda de avião no Irã levanta dúvidas sobre terrorismo e ataque de míssil
Acidente ocorreu pouco depois do início da represália iraniana contra os Estados Unidos; laudo inicial afirma ter havido incêndio na aeronave em voo
A queda do Boeing 737-800 da empresa aérea Ukraine International Airlines no aeroporto internacional de Teerã na quarta-feira 8 levanta hipóteses que vão da falha mecânica à ação terrorista, passado pelas teses de colisão e ataque de míssil anti-aéreo disparado por engano pelo Exército do Irã. O caso ainda não elucidado pelas autoridades iranianas resulta em pressões da Ucrânia, do Canadá e dos Estados Unidos sobre Teerã em um momento de frágil trégua entre Washington e o regimes dos aiatolás.
O avião caiu pouco depois do início do ataque iraniano contra bases que abrigam tropas americanas no Iraque na quarta. Todos os passageiros e tripulantes morreram: 82 iranianos, 63 canadenses, onze ucranianos, dez suecos, quatro afegãs, três britânicos e três alemães. A comedida informação do Irã sobre suas investigações, inclusive sobre o conteúdo da caixa-preta, alimenta as teorias sobre a tragédia.
O chefe do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, disse em uma postagem em sua conta no Facebook que as principais hipóteses para queda do voo PS752 giram em torno de: terrorismo, colisão com outro objeto voador (como um drone), falha técnica que teria gerado a explosão dos motores e ataque de um míssil antiaéreo contra a aeronave. Todas as teorias convergem em um ponto incomum: quando caiu, o Boeing já estava em chamas, como atestou o laudo inicial do governo iraniano.
Logo após o acidente, vídeos publicados nas redes sociais mostravam um ponto brilhante caindo no céu e, em seguida, uma explosão.
No dia seguinte ao acidente, moradores da região foram ao local do acidente, que deveria estar interditado. Fotos de supostos destroços do avião, então, começaram a aparecer na internet. Ao mesmo tempo, uma imagem do que parece ser a cabeça de um míssil de origem russa também emergiu nas redes e alimentou as especulações sobre o possível ataque defensivo de baterias antiaéreas iranianas. Mas ainda não está clara a veracidade da foto.
O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, pediu “com veemência que todos se abstenham de especular e lançar hipóteses não contrastadas até a divulgação de informações oficiais sobre a catástrofe”. Kiev também enviará uma equipe de peritos que atuou na investigação da queda do voo MH17, da companhia aérea da Malaysia Airlines, abatido em 2014 por um míssil terra-ar disparado por separatistas russos em território ucraniano. Os rebeldes confundiram a aeronave com um avião militar. O desastre provocou a morte a 298 pessoas.
Fontes de segurança dos Estados Unidos, da Europa e do Canadá, que pediram para não ser identificadas, disseram que a avaliação inicial das agências de inteligência ocidentais é a de que o avião sofreu um mau funcionamento técnico e não foi derrubado por um míssil. Havia evidências de que um dos motores do jato superaqueceu, segundo uma fonte canadense.
A posição de Teerã coincide com a dos países ocidentais. O Irã afirma ter havido uma falha mecânica na aeronave e nega que o Exército tenha disparado um míssil por engano. Quanto à caixa-preta, o chefe da área de Aviação Civil iraniana, Ali Abedzadeh, disse que não enviará os dados de voo à Boeing nem aos Estados Unidos. Pelas leis internacionais, o Irã tem a responsabilidade de investigar a queda.
Ao lado dos peritos ucranianos, especialistas do Reino Unido e da Suécia irão se juntar às investigações de Teerã.
O acidente acontece em um momento difícil para a fabricante de aviões Boeing, que recolheu sua frota 737 MAX após dois acidentes. O 737-800 é um dos modelos mais usados no mundo, tem um bom histórico de segurança e não usa a ferramenta de software implicada nas quedas do 737 MAX.
“Estamos em contato com nossos clientes de companhias aéreas e os apoiamos neste momento difícil. Estamos prontos para ajudar da maneira que for necessário”, afirmou a fabricante em comunicado divulgado nesta quarta-feira. A empresa se recusou a fazer mais comentários.
(Com Agência Brasil, EFE e Reuters)