Quem é ‘Barbecue’ Chérizier, que ameaça começar ‘guerra civil’ no Haiti
Ex-policial emergiu como figura central das milícias nem meio à onda de violência que tomou conta do país nos últimos anos
Líder da aliança de gangues “Família G9” do Haiti, Jimmy Chérizier, ameaçou na terça-feira, 5, iniciar uma guerra civil no país caso o primeiro-ministro Ariel Henry permaneça no poder. Também conhecido como “Barbecue”, Chérizier, de 46 anos, é ex-policial da Polícia Nacional haitiana e emergiu como figura central das milícias no país em meio à onda de violência de gangues tomou conta do país nos últimos anos.
Nascido em Porto Príncipe, Barbecue costuma fazer aparições s públicas de boina, roupas camufladas, colete à prova de bala e arma na mão. Foi em uma destas aparições que o líder anunciou a criação da aliança das gangues, em 2019, que reúne nove grupos de milícias no país. Porém, em 2021, quando o então presidente Jovenel Moïse foi assassinado, Chérizier ganhou grande destaque.
Na época, o ex-policial convocou diversos protestos em toda ilha caribenha acusando líderes da oposição e policiais de terem armado o assassinato do chefe de Estado. Desde então, suas ações ganharam notoriedade internacional. No mesmo ano, a aliança do G9 assumiu controle do principal porto de combustíveis do Haiti, mantendo todo o país como refém por um mês. Após o bloqueio, o premiê Ariel Henry começou a reunir apoio de diversos países para derrotar a facção que já era considerada uma das mais perigosas do mundo.
Violência indiscriminada
Segundo a ONU, o Haiti virou palco de assassinatos, abusos, tortura, sequestros e incêndios criminosos cometidos por membros de gangues. Atualmente, as guerras territoriais se expandem para fora da capital e colocam pressão sobre o abastecimento de alimentos. Alguns grupos de investigação criminal alertaram que as facções haitianas estão cada vez mais independentes, permitindo que eles acumulem armas de fogos traficadas em grande parte dos Estados Unidos. Além disso, a aliança já gere escolas, clínicas e postos de controles e seus líderes vivem em casas luxuosas, entre eles Chérizier.
Devido a suas ações, ele chegou a ser acusado pelos EUA e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de graves violações dos direitos humanos. O líder é um dos cinco membros de gangues sujeitos a sanções da ONU e do país norte-americano. Ele é considerado um dos mais perigosos do país e é temido por seus ataques envoltos de barbaridades. De acordo com testemunhas, seu apelido “Barbecue” (churrasco em inglês) foi dado por ele ter hábito de queimar as casas de suas vítimas com os seus cadáveres dentro. No entanto, ele afirma que o nome veio por sua família administrar um negócio de carne assada.
De policial a criminoso
A atividade criminosa de Chérizier começou quando atual líder ainda era policial. Em 2017, ele esteve envolvido na morte de nove civis durante uma operação contra gangues na capital haitiana. Porém, em 2018, as ligações de Barbecue com as máfias haitianas já estava mais fortalecidas.
Desde dessa época, é atribuída ao líder a participação em três massacres que deixaram centenas de mortos. Em 2018, ele participou de um ataque no bairro de La Saline, onde diversas pessoas, incluindo crianças, foram retiradas de suas casas e executadas a tiros ou facadas. Cerca de 71 pessoas morreram, 11 mulheres foram violentadas e 400 casas foram incendiadas.
Um ano depois, o bairro de Bel-Air, que havia erguido barricadas e bloqueado ruas em participação a uma onda de protestos que ocorria no país, sofreu uma investida similar. Ao todo foram 24 mortos. Mesmo com os moradores chamando a polícia, nenhum agente se dirigiu ao local.
Seu maior massacre foi em 2020, quando a aliança do G9 já estava formada. No bairro de Cité Soleil, conhecido por ser um dos mais pobres da capital, cerca de 145 civis morreram durante uma operação da facção. Membros da aliança violentaram mulheres e atearam fogo em diversas casas.
Em sua última aparição, na quarta-feira, 6, o chefe da gangue se encontrou com jornalistas na capital do país fazendo ameaça de investidas de ações mais perigosas do que as anteriores.
“Se Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar a apoiá-lo, caminharemos para uma guerra civil, que levará ao genocídio”, disse o Chérizier.