Quem é Yevgeny Prigozhin, ‘chef de Putin’ e líder do Grupo Wagner
Conhecido por linguagem nada moderada e presença constante perto das linhas de frente, mercenário virou um dos rostos mais visíveis da guerra na Ucrânia
Dez pessoas morreram em uma queda de avião na região de Tver, no norte de Moscou, nesta quarta-feira, 23, segundo a agência de notícias russa Tass. Um dos passageiros que constava na lista seria o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, chefe mercenário que liderou uma rebelião fracassada contra Moscou há poucos meses.
Conhecido por uma linguagem nada moderada e a presença constante perto das linhas de frente durante boa parte da guerra na Ucrânia, Prigozhin é um dos rostos mais visíveis do conflito, tendo rivalizado abertamente com o Ministério da Defesa russo por causa de planos militares e suprimentos.
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A história do chefe mercenário, no entanto, é incomum e não segue a hierarquia militar russa. Prigozhin, de 62 anos, foi condenado por roubo e agressão em 1981 e sentenciado a 12 anos de prisão. Após sua libertação, ele abriu um restaurante em São Petersburgo na década de 90, que rapidamente ganhou repercussão e começou a receber figuras importantes, como o então vice-prefeito Vladimir Putin.
Com essa conexão, ele abriu um negócio de catering e ganhou lucrativos contratos com o governo russo que lhe valeram o apelido de “chef de Putin”. Mais tarde, expandiu-se para outras áreas, incluindo a comunicação social e uma infame “fábrica de trolls” na internet, que levou à sua acusação nos EUA por intromissão nas eleições presidenciais de 2016.
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Em setembro do ano passado, ele admitiu que fundou o grupo militar privado Wagner em 2014, ano em que a Rússia anexou a Península da Crimeia. Foi a primeira confirmação pública de uma ligação que ele havia negado anteriormente e processado jornalistas por reportarem. Na época, ele disse que tinha 50.000 homens à sua disposição “nos melhores momentos”, com cerca de 35.000 na linha de frente em todos os momentos.
Rebelião e exílio
A rivalidade com o Ministério da Defesa russo atingiu novos patamares em junho, quando o chefe mercenário afirmou que seus combatentes haviam cruzado da Ucrânia para a cidade fronteiriça russa de Rostov-on-Don e que lutariam com qualquer um que tentasse detê-los. A provocação ocorreu um dia depois de Prigozhin ter acusado o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, de ordenar um ataque com foguetes aos acampamentos do Wagner na Ucrânia, matando “um grande número” de combatentes.
“O Ministério da Defesa está tentando enganar a sociedade e o presidente e nos contar uma história sobre como houve uma agressão maluca da Ucrânia e que eles planejavam nos atacar com toda a Otan”, disse Prigozhin em um vídeo à época.
Sob ameaças do Kremlin, Prigozhin colocou fim ao levante que marchava em direção à Moscou quando o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, formalizou um acordo com autoridades russas que previa anistia e permissão para que os envolvidos na rebelião pudessem se mudar para o país. Os mercenários tinham como opção, ainda, o ingresso nas Forças Armadas da Rússia ou voltar para suas respectivas casas.
Com a negociação, nove comboios de mais de 2.000 soldados Wagner chegaram a Belarus, de acordo com o grupo ativista bielorrusso Belaruski Hajun. Em comunicado, um comandante da tropa de Prigozhin anunciou que outros 10.000 mercenários ainda devem ser conduzidos ao país.
Além da participação na guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado, os soldados do grupo Wagner marcaram presença na Síria e em múltiplos países africanos desde 2014, quando foi fundado por Prigozhin. Em resposta à preparação em Belarus, o governo do Reino Unido congelou ativos e proibiu viagens de 13 mercenários à nação por abusos dos direitos humanos na África.