O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta terça-feira, 23, que “quem se assustou que tome um chá de camomila”. A declaração acontece um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizer que tinha ficado “assustado” com a fala de Maduro sobre a possibilidade de um “banho de sangue” no país caso ele não vença a eleição presidencial, marcada para o próximo domingo, 28.
“Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”, disse Lula em entrevista a agências internacionais. “O Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição.”
Maduro não citou o nome de Lula ao responder nesta terça. O venezuelano ainda afirmou que não mentiu ao falar sobre o “banho de sangue” e que sua declaração foi apenas uma “reflexão”. “Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita”, disse.
Maduro afirmou que sua fala na semana passada foi uma referência ao Caracaço, levante popular de 1989 que deixou centenas de mortos e que marcou uma virada política que levou à ascensão de popularidade de Hugo Chávez.
Acusação sem provas
Durante um comício na noite de terça-feira, Maduro defendeu as eleições locais e afirmou, sem apresentar provas, que as eleições no Brasil não são auditadas. “Temos o melhor sistema eleitoral do mundo, temos 16 auditorias”, afirmou o político.
“Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos, é inauditável o sistema eleitoral. No Brasil não auditam um registro. Na Colômbia não auditam nenhum registro”, acrescentou.
Como se sabe e foi mostrado diversas vezes, as eleições no Brasil são auditáveis e seguras. Todos os processos, inclusive, são acompanhados por partidos políticos e outras entidades nacionais e internacionais.
Eleições tensas
Atualmente, Maduro, que busca o terceiro mandato, compete com mais nove candidatos. Dentre eles, o mais bem posicionado é Edmund González, que aparece com 47 pontos de vantagem em relação ao presidente venezuelano nas últimas pesquisas. A ameaça de Maduro foi feita em um discurso em Caracas na quarta-feira passada, durante o qual ele também alertou para que o país iria presenciar uma “guerra civil fratricida” caso não vencesse o pleito.
“No dia 28 de julho, se não querem que a Venezuela caia num banho de sangue, numa guerra civil fratricida como resultado dos fascistas, garantamos o maior sucesso, a maior vitória na história eleitoral do nosso povo”, disse ele durante a fala na Paróquia La Vega.
Esta não foi a primeira vez que Maduro fez ameaças que envolvem o resultado eleitoral. Durante um comício realizado no estado de Arágua, no norte do país, o presidente também afirmou que o país iria decidir entre “guerra ou paz” nas eleições. Além disso, em outro discurso, o líder venezuelano afirmou que a oposição não só quer uma “fraude eleitoral”, mas também quer provocar “uma tragédia”.
“No dia 28 de julho decide-se guerra ou paz, guarimba (termo para protestos violentos) ou tranquilidade, projeto de pátria ou colônia, democracia ou fascismo. Eles estão prontos? Eles estão preparados? Eu estou preparado. Tenho amor pela Venezuela, tenho a experiência, não tenho medo nem do diabo, Deus vem comigo, Deus conosco, o povo conosco”, declarou na ocasião.
A corrida eleitoral na Venezuela é marcada por uma repressão política cada vez mais evidente. Desde que ela começou, a oposição tem denunciado prisões e outras medidas antidemocráticas das autoridades. Na última quarta-feira, 17, o chefe de segurança de María Corina Machado foi detido. Principal rosto da oposição, ela foi impedida de concorrer pelo Supremo devido a supostas “violações de fraude”.