O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, afirmou nesta sexta-feira, 19, que não pode haver “segurança e estabilidade” no Oriente Médio sem a criação de um Estado palestino. Sua postura antagoniza o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que na véspera disse se opor completamente a um país para os palestinos após a guerra.
“Sem o estabelecimento de um Estado palestino independente com Jerusalém Oriental como capital, [respeitando] as fronteiras de 1967, não haverá segurança e estabilidade na região”, disse Abbas segundo seu porta-voz, Nabil Abu Rdeineh, à agência de notícias estatal palestina Wafa.
Em 1967, quando ocorreu a Guerra dos Seis Dias, Israel invadiu e passou a ocupar territórios palestinos de Gaza, Cisjordânia, Península do Sinai e Colinas de Golã. Algumas fronteiras recuaram, mas os palestinos nunca voltaram a ver parte do território perdido.
Netanyahu
Na quinta-feira 18, o premiê israelense, em coletiva de imprensa, relatou ter dito aos Estados Unidos que se opõe ao estabelecimento de um Estado palestino assim que o conflito em Gaza terminar. Ele defendeu que Israel deve ter o controle da segurança sobre todas as terras a oeste do rio Jordão, o que incluiria o território de qualquer futuro território palestino.
“Esta é uma condição necessária e entra em conflito com a ideia de soberania [palestina]. O que fazer? Disse esta verdade aos nossos amigos americanos e também impedi a tentativa de nos impor uma realidade que prejudicaria a segurança de Israel”, afirmou Netanyahu a repórteres, acrescentando que vai prosseguir com a ofensiva em Gaza “até à vitória completa”, o que pode levar “muitos meses”.
O líder israelense passou grande parte da sua carreira política opondo-se à criação de um Estado palestino. No mês passado, chegou a se vangloriar de ter impedido a “solução de dois Estados”. No entanto, a refutação pública de uma medida defendida por Washington e a determinação em manter a intensidade da guerra mostram que o abismo entre Israel e seus aliados ocidentais se aprofunda.
Estados Unidos
Desde os ataques de 7 de outubro – os piores da história de Israel, quando militantes do Hamas mataram cerca de 1.200 israelenses e sequestraram 240 pessoas – Washington têm apoiado o seu direito de se defender. Mas à medida que o número de mortos em Gaza aumenta – quase 25 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza –, governos ocidentais têm aumentado apelos à contenção.
Os aliados de Israel, incluindo os Estados Unidos – e muitos dos seus inimigos – defendem a “solução de dois Estados”, há muito adormecida, na qual um futuro Estado palestino ficaria lado a lado com um Estado israelense. A esperança era que a atual crise possa forçar as partes em conflito a regressarem à diplomacia, mas, pelos comentários de Netanyahu, a sua intenção parece ser exatamente o oposto.
Sobre os comentários do premiê israelense, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, reconheceu que os Estados Unidos e Israel “obviamente” veem as coisas de forma diferente.
“Queremos um governo em Gaza que seja representativo das aspirações do povo palestino, que eles tenham voto e voz sobre o que isso significa e que não haja reocupação de Gaza”, disse Kirby.