Duas das regiões mais ricas da Itália, Lombardia e Vêneto, realizam neste domingo referendos para pedir maior autonomia ao governo central de Roma. Ao contrário do que acontece na Catalunha, os plebiscitos respeitam a Constituição italiana, que prevê a possibilidade de o Parlamento atribuir mais liberdades às regiões que as solicitem.
Lombardia e Vêneto querem mais autonomia, não independência. Os presidentes regionais das duas localidades fazem campanha sobre os benefícios econômicos de diminuir a autoridade de Roma. Em caso de vitória do sim, as regiões no norte do país exigirão mais competências nas áreas de infraestrutura, saúde ou educação, bem como certos poderes reservados ao Estado, como decisões sobre segurança e imigração.
O objetivo também é obter mais recursos, recuperando cerca de metade do saldo fiscal, diferença entre o que as províncias coletam em impostos e o que recebem do orçamento público. Atualmente, a defasagem é de 54 bilhões de euros (200 bilhões de reais) para a Lombardia e cerca de 15 bilhões (56 bilhões de reais) para Vêneto.
As duas regiões, em conjunto, representam 30% do PIB nacional. O endividamento per capita é baixo: 73 euros (275 reais) para a Lombardia, 219 euros (825 reais) para o Vêneto, em comparação com 407 euros (1.530 reais) para a média nacional.
O mesmo vale para o “custo para o Estado” de cada habitante: 2.447 euros (9.200 reais) na Lombardia e 2.853 (2.700 reais) no Vêneto, bem abaixo da média italiana de 3.658 euros (13.700 reais). Os presidentes regionais, Roberto Maroni e Luca Zaia, creem que sua população deve ser recompensada por suas contribuições econômicas.
Divisão nacional
O referendo é celebrado num contexto de fratura entre as regiões norte e sul, com a ideia de que Roma é um lugar de poder corrupto e centralizador. As pesquisas apontam uma clara vantagem ao sim para a concessão de autonomia.
As dúvidas residem na participação popular. Em Vêneto deve superar os 50% para que o referendo seja válido. E na Lombardia, embora não haja quórum, “se a participação for inferior a 40%, a questão provavelmente não passará de uma leve agitada nos livros de história”, de acordo com Lorenzo Codogno, especialista na LC Macro Advisors.
As regiões abrigam algumas famosas cidades turísticas italiana, como Milão, Veneza e Verona.
Canvey Island
Assim como a Catalunha, um pequena ilha inglesa também reivindica sua independência. Canvey Island, de 40.000 habitantes, ao norte da foz do Tâmisa, quer romper sua relação com o continente.
Tudo começou na semana passada em uma reunião pública sobre um projeto para derrubar um salão de eventos e substituí-lo por casas, a pedido da associação de municípios, o conselho de Castle Point. Este agrupa Canvey Island e seus vizinhos Benfleet, Thundersley e Hadleigh, situados no “continente”, do outro lado do Tâmisa. Outro projeto “injusto” para Dave Blackwell, o líder do Partido Independente de Canvey Island (CIIP, na sigla em inglês).
“Estamos fartos de estar vinculados ao ‘continente’, e que o ‘continente’ tome as decisões em nosso lugar”, afirma, indignado. Blackwell iniciou um protesto e anunciou uma petição para organizar um referendo, com o objetivo de deixar Castle Point. “Se o referendo fosse realizado amanhã, 80% estariam a favor da independência”, diz esse pai de quatro filhos.
O partido separatista é uma verdadeira força política nessa faixa de terra muito apreciada pelos londrinos, a quarenta minutos de trem da capital. A agremiação tem nove dos onze conselheiros municipais, e quinze conselheiros locais dos dezoito representantes da ilha no Conselho de Castle Point. Canvey Island já votou, de forma majoritária, a favor da saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de junho de 2016.
(Com AFP e Estadão Conteúdo)