Reino Unido acusa espiões da Rússia de ‘interferência cibernética’
Ministério das Relações Exteriores alegou que grupos de hackers ligados à agência de inteligência russa FSB tentam intervir na política britânica

O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido disse nesta quinta-feira, 7, que espiões da Rússia estão “por trás de um esforço sustentado para interferir nos nossos processos democráticos”. De acordo com a pasta, o serviço de segurança federal russo (FSB) está usando “interferência cibernética” para atingir pessoas com ligações políticas.
Leo Docherty, assessor do ministro das Relações Exteriores, David Cameron, afirmou à Câmara dos Comuns que descobriu-se que um grupo russo estava por trás do ataque hacker ao Institute for Statecraft, em 2018, e que, como resultado, dois indivíduos foram sancionados sob o regime de embargos cibernéticos.
O embaixador russo foi convocado ao ministério na manhã desta quinta-feira, 7, para ser informado das medidas.
Os alvos
De acordo com Docherty, os espiões russos têm na mira deputados britânicos, conjugues, funcionários públicos e jornalistas desde 2015, como parte de uma tentativa orquestradas de interferir na política britânica.
“Posso confirmar hoje que os serviços de segurança federais russos, o FSB, estão por trás de um esforço sustentado para interferir nos nossos processos democráticos. Eles têm como alvo membros desta casa e da [Câmara dos Lordes]. Têm como alvo funcionários públicos, jornalistas e ONGs. Eles têm como alvo indivíduos e entidades de alto perfil com uma intenção clara – usar as informações que obtêm para se intrometer na política britânica”, declarou.
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Ligações com o FSB
Doherty disse que um grupo chamado Center 18, uma unidade do FSB, esteve envolvido em espionagem cibernética. Outro time, chamado Star Blizzard, foi responsável por atividade de hacking visando “parlamentares britânicos de vários partidos”.
Os grupos teriam realizado pesquisas minuciosas e “contatos personificados que parecem legítimos e criam uma abordagem confiável, buscando construir um relacionamento antes de entregar um link malicioso”. O assessor disse que eles visam predominantemente contas pessoais. Em seguida, o grupo “vaza e amplia seletivamente a divulgação de informações confidenciais a serviço dos objetivos de confronto da Rússia”.
“A Rússia tem um longo histórico de atividades cibernéticas imprudentes, indiscriminadas e desestabilizadoras”, disparou Docherty.
O assessor afirmou que “foram tomadas medidas específicas” para melhorar as medidas preventivas contra ataques cibernéticos, mas agora é uma questão de maior vigilância de todos os lados.
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Queixas contra hackers russos
Diversos deputados já se queixaram de terem sido alvo de hackers e Ben Bradshaw, do Partido Trabalhista, chegou a declarar em 2019 que acreditava ter sido alvo de interferência da Rússia. O Kremlin também era suspeito de estar por trás de um ataque cibernético em 2017 ao parlamento, que violou dezenas de contas de e-mail pertencentes a deputados e pessoas ligadas ao governo.
Dominic Raab, o ex-ministro de Relações Exteriores, também disse anteriormente que a Rússia estava envolvida no vazamento de documentos relacionados ao comércio entre Reino Unido e Estados Unidos. Docherty confirmou que o grupo responsável foi o Star Blizzard.
Indícios
Esta é a confirmação mais forte do governo britânico sobre interferências da Rússia nos processos democráticos do Reino Unido. Um relatório da comissão de inteligência e segurança do parlamento concluiu em 2020 que o governo britânico e as agências de inteligência não conseguiram realizar qualquer avaliação adequada das tentativas do Kremlin de interferir no referendo do Brexit de 2016.
O relatório dizia que os ministros fecharam os olhos às alegações. Afirmou ainda que o governo “não tinha visto nem procurado provas de interferência bem-sucedida nos processos democráticos do Reino Unido” na época, e deixou claro que não foi feito nenhum esforço sério desde então.