O Reino Unido anunciou nesta segunda-feira, 20, que suspenderá seu tratado de extradição que mantinha com Hong Kong. A medida é mais um episódio da recente disputa entre o governo britânico e a China, em torno da nova lei de segurança nacional que Pequim recentemente impôs ao território semi-autônomo e ex-colônia britânica. Londres justificou o ato afirmando que pessoas extraditadas para Hong Kong poderiam ser julgadas na China continental, um dispositivo previsto na nova legislação.
“Não consideraremos reativar esses acordos [de extradição] até que haja garantias capazes de impedir que a extradição do Reino Unido seja usada indevidamente sob a nova legislação de segurança nacional”, disse o ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, nesta segunda-feira ao Parlamento britânico.
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Clique e AssineA decisão, porém, tem caráter bem mais de um ataque simbólico do que prático, já que as extradições entre o Reino Unido e Hong Kong são “extremamente raras”. A medida se encaixa em uma onda de reações de governos ocidentais à nova lei de segurança nacional. Além do Reino Unido, Austrália e Canadá também suspenderam tratados de extradição com Hong Kong no início de julho.
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revogou o tratamento comercial especial concedido pelos Estados Unidos ao território. Assim Hong Kong passou a estar sujeita às mesmas sanções americanas impostas contra a China continental.
Trump, no mesmo dia, ainda assinou um pacote de sanções – como concessão de vistos – contra algumas autoridades chinesas responsáveis por implementar a lei de segurança nacional.
Em alusão a esta medida do governo americano, parlamentares britânicos pressionaram nesta segunda-feira seu ministro das Relações Exteriores por sanções direcionadas contra indivíduos.
“Vamos pacientemente reunir as evidências. [Isso] leva meses”, respondeu Raab.
A China, que enfrenta outra discussão diplomática com o Reino Unido referente à regulamentação da tecnologia 5G, já ameaçou responder à altura caso cidadãos chineses sofram retaliações pelo governo britânico.
“Se o governo do Reino Unido for tão longe [ao ponto de] impor sanções a qualquer indivíduo na China, [o governo chinês] certamente dará uma resposta ferrenha”, ameaçou o embaixador da China no Reino Unido, Liu Xiaoming, em uma entrevista à emissora britânica BBC no domingo 19.
Eleições em Hong Kong
Hong Kong realizará eleições para o Conselho Legislativo (Legco), principal órgão legislativo da região administrativa especial, em 6 de setembro.
A votação será a primeira oportunidade dos manifestantes críticos a Pequim de tentar recuperar alguma influência política no Legco.
Apenas metade dos assentos do Legco, porém, são eleitos diretamente, enquanto a outra metade é dividida entre indicações de várias organizações cívicas e nomeações de Pequim.
Um dos líderes da onda de manifestações em 2019 pró-autonomia de Hong Kong, Joshua Wong, confirmou nesta segunda-feira que se candidatará a um assento no Legco.
“Com a possibilidade de enfrentar uma sentença de prisão perpétua, ainda espero receber o mandato das pessoas e deixar o mundo saber que continuaremos lutando até nosso último suspiro”, disse Wong que já foi detido mais de uma vez devido a sua participação em protestos desde meados de 2019 e pode ser julgado com base na nova lei.
(Com Reuters)