Reunião de 30 anos do Mercosul termina em bate-boca entre presidentes
Presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, afirmou que bloco não pode 'ser uma carga', enquanto argentino Alberto Fernández o convidou a 'sair do barco'
A reunião comemorativa dos 30 anos do Mercosul realizada nesta sexta-feira, 26, terminou com briga entre presidentes e escancara o momento vivo pelo bloco, considerado o pior desde a sua criação. Após discursos no encontro virtual, um bate-boca entre os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e da Argentina, Alberto Fernández, serviu de exemplo para a crise.
Em fala na cúpula presidencial, Lacalle Pou afirmou que o Mercosul não pode ser “uma carga”, nem um “espartilho” para os países que o integram. Fernández, por sua, afirmou : “Se a carga é muito pesada, o mais fácil é descer do barco”.
“Terminemos com essas ideias, em um momento tão difícil. Não queremos ser uma carga para ninguém. Se somos uma carga, que nos deixem”, disse Fernández, anfitrião do encontro virtual. Mais cedo nesta semana, o presidente já havia anunciado a saída da Argentina do Grupo de Lima, citando divergências com a participação da oposição venezuelana, apoiada por parte dos membros do fórum.
Pertencente ao campo político oposto do argentino, o presidente Jair Bolsonaro participou da reunião pedindo uma ampliação das negociações comerciais com países fora do bloco. Ele ressaltou que eventuais diferenças políticas entre os membros do Mercosul não podem afetar a integração ou o desenvolvimento econômico da região.
“O Brasil deseja contar com o apoio dos demais membros do bloco para seguir ampliando a rede de negociações comerciais extrarregionais de modo a contribuir para rápida retomada do crescimento e impulsionar um novo ciclo virtuoso no Mercosul”, disse nesta sexta-feira.
Bolsonaro saiu antes do término da reunião, e não chegou a acompanhar o momento tenso entre os mandatários dos países vizinhos.
As diferenças entre os chefes de estado do bloco sul-americano nunca foram tão explicitadas em uma cúpula como essa. Há tempos insatisfeito, o Uruguai deseja uma maior flexibilização para avançar em negociações comerciais com outros países e regiões. A posição, porém, ainda enfrenta resistências do Paraguai e principalmente da Argentina. A desejada flexibilização implica na modernização da Tarifa Externa Comum (TEC), que taxa produtos que sejam de fora do bloco, além da exigência de um consenso entre os membros em negociações externas.
A principal questão do governo argentino é o desejo de insistir em uma maior proteção à sua indústria nacional, que vive uma enorme crise econômica: apenas no ano passado, houve uma queda de quase 10% do PIB nacional. Lacalle Pou, no entanto, se demonstrou insatisfeito com o rimo dos argentinos, dando início ao bate-boca.
Para o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, a reforma da TEC é vista com bons olhos. No entanto, ele expressou o desejo de continuar negociando em conjunto, já que sozinho o Paraguai se sente muito mais fraco. Além disso, o país foi o único a pedir a cooperação conjunta para ter acesso a vacinas contra a Covid-19.
“Não podemos permitir que as ideologias contaminem o processo, que nos dividam. Temos de ser o exemplo e deixar um legado de entendimento e tolerância”, disse Abdo, tentando adotar uma postura de apaziguador.
Além dos presidentes dos países membros plenos, Sebastián Piñera, do Chile, e Luis Arce, da Bolívia, também defenderam uma união entre os países para o enfrentamento da pandemia. Os dois países são membro associados do Mercosul.