O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi vaiado efusivamente nesta quarta-feira, 21, quando subiu ao palco da Semana Latino-Americana e Caribenha sobre Mudança do Clima, organizada pelas Nações Unidas em Salvador, Bahia. A realização da conferência no Brasil chegou a ser cancelada pelo próprio Salles, em maio passado. Pressionado, voltou atrás.
Os protestos incluíram faixas e palavras de ordem contra o ministro e a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro. Apenas uma minoria dos participantes aplaudiu Salles. As vaias sinalizaram descontentamento do público do seminário com a retórica do atual governo sobre a mudança climática e o aumento desenfreado do desmatamento na Amazônia registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe).
Crítica de Salles, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) postou em seu Twitter um vídeo do momento da vaia.
A posição do atual governo gerou críticas no exterior e ocasionou a retirada do investimento dos governos alemão e norueguês no Fundo Amazônia, de projetos de preservação da região. A revista britânica The Economist dedicou uma reportagem de capa ao tema do desmatamento no Brasil e tachou o presidente brasileiro como ‘sem dúvida, o chefe de Estado mais perigoso em termos ambientais do mundo’.
Acarajé
A Semana do Clima debaterá os principais temas da agenda da Conferência do Clima da ONU (COP 25), em outubro, que o governo brasileiro negou-se a sediar e cuja organização foi abraçada rapidamente pelo Chile. O evento de Salvador faz parte da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e foi cancelado pelo Ministério do Meio Ambiente, em maio, sob os argumentos de que causaria “constrangimento” ao governo e custaria 500 milhões de reais. O ministro Ricardo Salles foi além ao explicar sua decisão ao portal G1.
“Vou manter um encontro que vai preparar um outro, que não vai acontecer mais no Brasil, por quê? Não faz o menor sentido, vai para o Chile! Vou fazer uma reunião para a turma ter oportunidade de fazer turismo em Salvador? Comer acarajé?”.
A repercussão negativa da frase levou Salles a reconsiderar a realização do evento no Brasil. A organização da Semana do Clima criaria um novo constrangimento se não o convidasse para discursar.