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Rival de Macron adota bandeira ecológica, mas segue racista

Na Europa, partidos extremistas adotam discurso ecológico para atrair jovens

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2020, 10h36 - Publicado em 4 jun 2020, 09h00

Pré-candidata às eleições presidenciais da França, em 2022, pelo partido de extrema direita Reunião Nacional, Marine Le Pen vem adotando um discurso ecologista na tentativa de ampliar sua base de eleitores. Rival do presidente francês Emmanuel Macron, Le Pen vem apresentando uma inédita, e perigosa, fusão entre nacionalismo e sustentabilidade.

Le Pen alinhou sua posição anti-imigração, racista e nacionalista, ao desenvolvimento sustentável. Assim, a globalização é apresentada como o maior inimigo à ecologia. A líder afirma que duas de suas ideias – o consumo somente de produtos franceses, o que chama de localismo, e o cerco à entrada de estrangeiros – são duas maneiras eficazes de proteger o meio ambiente.

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Agora, a União Europeia e as multinacionais são responsabilizadas por problemas que interessam, e muito, os jovens, como o aquecimento global. Num arroubo recente, por exemplo, responsabilizou a “desleal concorrência asiática” pela baixa produção de painéis solares na França. Para ela, é o liberalismo que levará a humanidade ao esgotamento dos recursos naturais.

A jogada esperta de Le Pen conta com uma preciosa ajuda. Trata-se de sua sobrinha, Marion Maréchal. A moça é neta do ex-deputado ultradireitista Jean-Marie Le Pen, considerado guru da extrema direita francesa. “Preservar nossa biodiversidade, nossa paisagem, deveria ser a luta natural de todo conservador”, diz Maréchal, que se apresenta como a anti-Greta Thumberg

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O empenho de Le Pen em se pintar de verde começou antes mesmo da pandemia, em 2019, quando lançou sua nova plataforma eleitoral. Com 100 páginas, o programa foi chamado por ela de “civilização ecológica”. Segundo Philippe Oliver, representante de Le Pen, o manifesto apresenta “uma visão de como integrar a questão ambiental e o governo”.

Em anos recentes, a preocupação com a ecologia já era um tema bastante popular na França. Tanto que Macron foi um dos líderes internacionais mais ativos quando uma série de incêndios varreu a Amazônia, em 2019.

No entanto, a preocupação ganhou mais força com a pandemia do coronavírus. Franceses e europeus em geral querem que o dinheiro gasto na reativação da economia, ao menos 500 bilhões de euros, seja direcionado a setores inovadores, como a implantação de uma matriz energética limpa e produção de veículos elétricos.

Tradicionalmente, a extrema direita francesa, a exemplo do que fazem outros líderes xenófobos da Europa e dos Estados Unidos, ignora o meio ambiente. Preferem se concentrar no discurso de ódio a minorias ou na criação de fantasmas inexistentes, como a ameaça comunista. Em eleições passadas, Le Pen jamais falou de problemas ecológicos, como o degelo nas calotas polares, a extinção de espécies ou escassez de água.

A mudança já foi detectada por analistas políticos, que deram uma alcunha ao movimento: eco-fascismo. Nele, líderes extremistas seguem no desprezo por valores democráticos, como os direitos humanos, mas adotam discurso ecologicamente correto.

“Fronteiras são o melhor aliado da sustentabilidade. É dessa forma que salvaremos o planeta”, disse Jordan Bardella, correligionário de Le Pen no Reunião Nacional. Bardella já afirmou, por exemplo, que a França conseguirá cortar suas emissões de poluentes se puser fim às importações.

Le Pen enfrentou Emmanuel Macron nas eleições presidenciais de 2017, quando foi derrotada em segundo turno por 66% contra 34%.

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