Rússia bombardeia cidades da Ucrânia, apesar da promessa de cessar-fogo
Relato vem um dia após promessa de 'redução drástica nas atividades militares em torno de Kiev e Tchernihiv', após rodada de negociações
O prefeito de Tchernihiv, Vladyslav Atroshenko, afirmou à CNN nesta quarta-feira, 30 que a cidade, localizada no norte da Ucrânia, sofreu um “ataque colossal” de forças russas. O relato vem um dia após o anúncio de cessar-fogo feito pelo Ministério da Defesa da Rússia, que prometeu uma “redução drástica nas atividades militares em torno de Kiev e Tchernihiv”, como parte da mais recente rodada de negociações de paz com a Ucrânia.
Tratando a promessa de Moscou com ceticismo, o prefeito local afirmou que a hostilidade dos ataques na verdade aumentou desde o anúncio de cessar-fogo. “Hoje temos um ataque colossal no centro de Tchernihiv. Vinte e cinco pessoas foram feridas e agora estão em hospitais. São todos civis.”
Ele completou seu relato dizendo que “esta é mais uma confirmação de que a Rússia sempre mente”.
Fazendo coro a Atroshenko, o governador da região de Tchernihiv, Viatcheslav Tchaus, confirmou os bombardeios. Em entrevista à BBC, Tchaus disse: “Agora mesmo, enquanto falamos, posso ouvir o que acho que são morteiros”. Ele acrescentou que a cidade de Nizhyn também foi afetada.
“Não acreditamos [nos russos] porque já vimos que não há uma única vez em que suas forças militares cumprem sua palavra”, disse o político.
A desconfiança em relação ao discurso do Kremlin também esteve presente no pronunciamento de Oleksii Arestovich, conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky, na TV ucraniana. Arestovich disse que a ação de Moscou não é um recuo, e sim um processo de transferência de forças do norte da Ucrânia para o leste.
“Embora os russos estejam retirando algumas tropas de Kiev, eles ainda deixarão certa quantidade de forças para manter nossas tropas aqui”, disse Arestovich.
Apesar de reconhecer avanços positivos nas negociações com a Rússia, Zelensky afirmou, na terça-feira, 29, não levar ao pé da letra nenhuma das palavras de Moscou. “Os ucranianos não são pessoas ingênuas. Já aprenderam durante esses 34 dias de invasão e nos últimos oito anos de guerra no Donbas que a única coisa em que podem confiar é um resultado concreto.”
O cessar-fogo era uma exigência de Kiev para que negociações seguissem adiante. A condição de Vladimir Putin para o cessar-fogo seria a aplicação do estatuto de neutralidade à nação ucraniana.
As exigências de Moscou para encerrar a invasão ao país vizinho, que teve início em 24 de fevereiro, foram explicitadas recentemente quando o porta-voz Dmitry Peskov listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militaresna Ucrânia. Em entrevista à agência Reuters, Peskov disse que o Kremlin exige que Kiev encerre sua ação militar, mude sua Constituição para a neutralidade, de modo que o país garanta que jamais irá fazer parte da Otan ou da União Europeia, e reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, além de enxergar a Crimeia como um território russo.