O Kremlin afirmou nesta terça-feira, 18, que a proposta do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de criar um clube de mediação neutro para a guerra na Ucrânia merece atenção, porque “leva em conta os interesses russos”. A declaração ocorre um dia depois da polêmica visita do chanceler russo, Serguei Lavrov, ao Brasil.
“Qualquer ideia que leve em conta os interesses da Rússia merece atenção, e certamente precisa ser ouvida”, disse Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, em coletiva de imprensa.
A visita de Lavrov foi marcada por críticas do governo dos Estados Unidos e chega ao fim nesta terça-feira, 18. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Jack Kirby, disse que a posição de Lula na guerra é “profundamente problemática” e que o presidente estava “repetindo propaganda russa sem olhar para os fatos”.
Em 2022, Lula também afirmou que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, era tão culpado pela guerra quanto Vladimir Putin, principalmente por não considerar as preocupações russas com a segurança nacional. O argumento foi repetido este ano.
Em resposta, o Itamaraty declarou que o Brasil só quer promover a paz e já condenou a invasão russa em duas votações nas Nações Unidas.
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De acordo com Lula, a Ucrânia deveria iniciar as negociações de paz reconhecendo a perda da Crimeia, anexada pelos russos em 2014. Essa série de declarações foi duramente criticadas por Washington e Kiev.
Antes da sua viagem para China, Lula enviou seu assessor-especial, Celso Amorim, para uma conversa com o presidente russo. Durante a viagem, ele fez críticas aos americanos, principais fornecedores de ajuda militar aos ucranianos, por “prolongarem a guerra”. A defesa do abandono do dólar como moeda de troca internacional também tem sido uma das principais pautas do presidente brasileiro.
O plano de Lula para o fim na guerra na Ucrânia consiste na criação de um “clube da paz” internacional para discutir termos para o fim do conflito. Porém, alguns documentos do Pentágono, vazados na internet neste mês, alertaram que os Estados Unidos acreditam que Putin pretendia usar o plano como uma forma de garantir os interesses russos.
A posição do presidente brasileiro é vista por observadores como frágil, devido ao baixo peso relativo do Brasil em questões de segurança internacional. Críticos de Lula afirmam que ele pode estar sendo usado pela Rússia para Moscou ganhar tempo.
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Além do Brasil, outras potências também tentam romper o impasse na guerra. A Turquia, que tem boas relações com Moscou e Kiev, além de ser integrante da Otan, não teve sucesso em suas tentativas. A China também apresentou um plano de paz e, segundo a agência Bloomberg, a França deseja trabalhar com Pequim em uma saída.
Analistas apontam que, apesar das tentativas internacionais, nem Moscou nem Kiev estão prontas para a paz. Para a Rússia, as negociações devem começar com o reconhecimento ucraniano das “novas realidades”, ou seja, a aceitação das anexações russas. Para a Ucrânia, os combates só acabam quando todas as forças russas deixarem as áreas ocupadas, que somam cerca de 20% do país.