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Rússia está saqueando ouro no Sudão para sustentar a guerra na Ucrânia

País montou um esquema de contrabando no país africano em troca de apoio para aliança militar que derrubou governo transitório, segundo rede CNN

Por Matheus Deccache Atualizado em 29 jul 2022, 17h16 - Publicado em 29 jul 2022, 17h16

A Rússia tem saqueado o ouro do Sudão para impulsionar seus esforços de guerra contra a Ucrânia, utilizando-o para sobreviver à série de sanções aplicadas pelos países ocidentais e encabeçada pelos Estados Unidos, de acordo com reportagem da rede CNN.

Pelo menos 16 voos de contrabando de ouro saíram do país, o terceiro maior produtor do metal precioso da África, em direção ao território russo no último ano e meio. Segundo a CNN, fontes oficiais sudanesas e americanas, além de documentos analisados, apontam um esquema elaborado para saquear as riquezas do Sudão em uma tentativa de fortalecer a Rússia contra sanções ocidentais. 

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As evidências apontam também que o Kremlin conspirou com a liderança militar sitiada sudanesa, permitindo que bilhões de dólares em ouro contornassem o território sudanês, privando o país assolado pela pobreza de centenas de milhões em receita estatal.

Em troca, os russos emprestaram um poderoso apoio bélico à liderança militar impopular do Sudão, que reprime violentamente o movimento pró-democracia. Segundo atuais e ex-funcionários do governo dos Estados Unidos, a Rússia apoiou ativamente o golpe militar do país africano em 2021, que derrubou o governo de transição vigente. 

“Sabemos há muito tempo que a Rússia está explorando os recursos naturais do Sudão. Para manter o acesso a esses recursos, a Rússia incentivou o golpe militar. Eles forneceram desde treinamentos e apoio de inteligência até parte nos lucros do ouro saqueado”, diz um dos ex-funcionários americanos que não foi identificado. 

No centro do esquema está Yevgeny Prigozhin, oligarca russo e aliado chave do presidente Vladimir Putin. O homem de 61 anos, fortemente sancionado pelo Ocidente, controla uma rede de empresas que inclui um grupo paramilitar supostamente ligado a torturas, assassinatos e saques em massa em vários países no continente africano. 

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No Sudão, o principal meio de Prigozhin é uma empresa sancionada pelos Estados Unidos chamada Meroe Gold, subsidiária da M-invest, de propriedade de Prigozhin, que extrai ouro enquanto fornece armas e treinamento para o exército e paramilitares do país, de acordo com documentos analisados. 

“Através da Meroe Gold, ou de outras empresas associadas aos funcionários do oligarca, foi desenvolvida uma estratégia de saquear os recursos econômicos desses países onde atuam, em contrapartida do seu apoio aos governos em vigor”, disse um investigador da Dossier Carter, que rastreia a atividade criminosa de várias pessoas associadas ao Kremlin, Denis Korotkov.

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O investigador aponta ainda a importância da figura de Alexander Sergeyevich Kuznetsov, agente de alto nível do grupo paramilitar, que supervisionou as operações nos principais locais de mineração, processamento e trânsito de ouro do Sudão nos últimos anos. Ele, que é um sequestrador condenado que lutou na vizinha Líbia, recebeu por quatro vezes o prêmio de Ordem da Coragem da Rússia e foi fotografado ao lado de Putin em 2017.

A intromissão da Rússia no ouro do Sudão teve início ainda em 2014, pouco após a anexação da Crimeia, que provocou uma série de sanções ocidentais ao país. As remessas de ouro provaram ser uma maneira eficaz de acumular e transferir riqueza, reforçando os cofres estatais russos e evitando sistemas internacionais de monitoramento financeiro.

O centro da operação de extração de ouro da Rússia fica nas profundezas do deserto do nordeste do Sudão, uma paisagem branqueada salpicada de abismos onde os mineiros trabalham no calor escaldante, com apenas tendas feitas de pedaços de lona e sacos de areia para algum descanso.

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A venda do ouro é feita de maneira desordenada próximo a uma fábrica de processamento conhecida localmente como “a empresa russa”, sendo o centro nervoso do esquema. Segundo a CNN, cerca de 85% do metal precioso sudanês é vendido dessa forma e as transações ocorrem, em sua maioria, fora dos livros, em um mercado dominado pela Rússia.

Por pelo menos uma década, o Kremlin escondeu seus negócios de ouro do Sudão do registro oficial. As estatísticas oficiais de comércio exterior sudanês desde 2011 listam as exportações totais do metal precioso para a Rússia em zero, apesar das abundantes evidências das extensas negociações de Moscou neste setor.

Como o governo russo se beneficiou de pontos cegos, é difícil afirmar com clareza o quanto o país lucrou com as negociações. Uma planilha obtida através de um funcionário do Banco Central sudanês, no entanto, aponta que 32,7 toneladas de ouro não foram contabilizadas em 2021, o que equivale a 1,9 bilhão de dólares em produto perdido. 

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De acordo com a maioria das fontes, cerca de 90% da produção do Sudão é contrabandeada, o que significa que mais de 13,4 bilhões de dólares foram burlados e perdidos em eventuais receitas para o governo. 

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