A capital da Rússia, Moscou, iniciou a campanha de vacinação em massa contra a Covid-19 no sábado 5. Utilizando 70 clínicas, autoridades começaram a imunizar os trabalhadores mais expostos à doença antes mesmo que os dados finais da vacina nacional, Sputnik V, estejam disponíveis.
A vacina Sputnik V é administrada em duas doses, com a segunda prevista para 21 dias após a primeira. A vice-primeira-ministra Tatiana Golikova delimitou as principais exigências para os vacinados: devem evitar locais públicos e reduzir a ingestão de remédios e álcool, que podem suprimir o sistema imunológico, nos primeiros 42 dias após a primeira injeção.
Ao contrário da maioria dos países ocidentais, a Rússia vai se concentrar primeiro nos funcionários da área da saúde, professores e assistentes sociais, ao invés dos grupos risco, como idosos, que têm mais chances de desenvolver quadros graves da doença.
Por entrarem em contato com muitas pessoas, esses profissionais provavelmente seriam expostos ao vírus que já provocou 43.000 mortes no país, segundo levantamento em tempo real da Universidade Johns Hopkins.
Segundo o chefe do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), Kirill Dmitriev, que desenvolve a vacina em parceria com o Ministério da Saúde, o país espera vacinar cerca de 2 milhões de pessoas ainda em dezembro. A Sputnik V foi registrada pelo governo como “segura e eficaz” antes do início dos testes finais em humanos.
“Durante as primeiras cinco horas, 5.000 pessoas se inscreveram para tomar a primeira dose – professores, médicos, assistentes sociais, aqueles que hoje estão arriscando sua saúde e suas vidas”, escreveu Sergei Sobyanin, prefeito de Moscou, em seu site pessoal na sexta-feira 4.
A animação, contudo, não é generalizada. Segundo uma recente pesquisa realizada do centro independente de pesquisa Levada-Center, apenas 36% dos entrevistados disseram que com certeza tomariam a vacina contra o novo coronavírus.
Antes do início da imunização em massa, o país já havia aplicado a Sputnik V a mais de 100.000 pessoas, de acordo com o ministro da Saúde, Mikhail Murashko. De acordo com o governo, a vacina será disponibilizada sem custo para toda a população, mas não há prazo para que isso aconteça.
A vacina russa, contudo, não está disponível para pessoas com doenças crônicas, mulheres grávidas ou que estão amamentando. Ao contrário do Reino Unido, que deve começar sua própria campanha nesta semana, o país não está vacinando pessoas com mais de 60 anos, devido à falta de dados dos testes clínicos.
A Sputnik V ainda está passando pela Fase 3, última etapa dos testes em humanos, envolvendo cerca de 40.000 voluntários. Pelo menos 20.000 deles já receberam duas injeções, mas esse número inclui o grupo de controle que recebeu o placebo. Os desenvolvedores da candidata disseram que ela tem 95% de eficácia, número próximo ao da Pfizer e da farmacêutica americana Moderna sobre suas vacinas.
Os efeitos colaterais relatados pelos participantes do estudo até agora incluem febres leves, dores de cabeça e dores musculares, em cerca de 15% das pessoas. Os resultados são semelhantes aos das principais farmacêuticas ocidentais.
Moscou, com cerca de 13 milhões de habitantes, foi o epicentro da pandemia de coronavírus na Rússia. A cidade tem relatado entre 7.000 e 8.000 casos diários todos os dias, bem acima dos registros de cerca de 700 no início de setembro.
A capital russa teve um lockdown duro no início da pandemia, fechando todos os estabelecimentos e locais públicos no final de março, mas amenizou as restrições em junho. Depois do aumento de casos, em outubro, algumas regras, como o ensino à distância para alunos do Ensino Médio e limite aos escritórios de 30% da capacidade, as medidas foram reintroduzidas.
O país registrou 28.700 novas infecções no domingo 6, uma das maiores taxas diárias, elevando o total nacional para 2.466.961, o quarto maior do mundo.