Rússia suspende inspeções do acordo de armas nucleares com os EUA
Moscou afirma que deixará de cumprir tratado de fiscalização mútua enquanto durarem as sanções impostas por causa da invasão à Ucrânia
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia declarou na segunda-feira, 8, que irá suspender o acordo que permitia inspeções dos Estados Unidos ao seu arsenal nuclear. O tratado New Start, em vigor desde 2010, é o último instrumento que regula o controle de armas entre Moscou e Washington.
As fiscalizações mútuas, previstas no acordo, tinham sido temporariamente suspensas pelas medidas sanitárias desde o início da pandemia de Covid-19. Contudo, a Rússia manifestou não estar disposta a reiniciar as vistorias, culpando as punições impostas por países ocidentais de impedirem os inspetores russos de viajar para os Estados Unidos.
“Não há obstáculos semelhantes para a chegada de inspetores americanos na Rússia”, disse o comunicado do ministério russo, que afirmou não ter tido resposta ao levantar essa questão.
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Um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos alegou que o país está “comprometido com a implementação do Tratado New Start”, mas que as discussões sobre o assunto são confidenciais.
Criado em 2010, durante o governo de Barack Obama, o instrumento limita em 1.550 a quantidade de ogivas estratégicas implantadas de cada país e restringe os sistemas de lançamento de armas nucleares.
O acordo foi prorrogado por cinco anos em fevereiro de 2021, tendo como cláusula a exigência de que especialistas dos Estados Unidos e da Rússia fiscalizem mutuamente seus respectivos arsenais de armas nucleares.
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As inspeções são uma maneira importante de verificar se as informações que um país fornece sobre suas armas são precisas.
As regras estabelecidas pelo New Start são amplamente vistas como vitais na construção da confiança mútua e na prevenção de erros de cálculo nuclear entre os países signatários.
Embora as inspeções tenham parado, as forças nucleares russas mantiveram a outra parte fundamental do acordo New Start: notificações aos Estados Unidos sobre quaisquer movimentos ou mudanças no status de seu arsenal.
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A ex-vice-secretária-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e subsecretária para controle de armas e segurança internacional dos Estados Unidos, Rose Gottemoeller, observou que o Centro Nacional e de Redução de Risco Nuclear tem recebido uma quantidade notável de informações sobre o programa nuclear russo.
“Eles estão intensificando as notificações. Em maio, Moscou enviou 18 notificações, um número nunca visto antes”, disse Gottemoeller, sugerindo que ao menos as forças nucleares russas estão manifestando intenção continuar a confiança mútua implementada pelo tratado.
Outros especialistas, no entanto, temem que a escalada de tensão entre os dois países, causada pela guerra na Ucrânia, possa comprometer o controle de armas.
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“Em um momento em que as relações entre Estados Unidos e Rússia estão tensas, qualquer coisa que prejudique a estabilidade e a previsibilidade nuclear é uma preocupação”, disse Jon Wolfsthal, diretor sênior de controle de armas e não proliferação no conselho de segurança nacional do governo Obama.
“No entanto, continuamos a trocar grandes volumes de informações com a Rússia sobre suas armas nucleares. A esperança é que este seja apenas um obstáculo político e não um novo e importante obstáculo à estabilidade”, acrescentou.