Forças russas tomara controle nesta sexta-feira, 4, da usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, a maior da Europa, poucas horas depois de ataques de artilharia terem provocado um incêndio, agora já controlado.
“No momento, o complexo da usina de Zaporizhzhia está ocupado por forças militares da Federação Russa”, confirmou em comunicado a Inspetoria Estatal de Regulação Nuclear, órgão nuclear ucraniano.
Segundo a operadora nuclear ucraniana, Energoatom, “o prédio administrativo e o posto de controle da estação estão sob controle de ocupantes”.
De acordo com a Inspetoria Estatal, os seis reatores da usina permanecem intactos após o incêndio e as trocas de tiros. Instalações auxiliares do compartimento da unidade 1 do reator foram danificadas, mas não apresentam riscos.
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De acordo com Rafael Mariano Grossi, chefe da Agência International de Energia Atômica, ligada às Nações Unidas, “não houve liberação de materiais radioativos”, mas a situação em solo ainda é “extremamente tensa e desafiadora”.
⚡️⚡️⚡️Surveillance cameras captured moments of the shelling of the #Zaporizhzhia NPP pic.twitter.com/ZNLX4pZeXI
— NEXTA (@nexta_tv) March 4, 2022
Em vídeo, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, o major general Igor Konashenkov, disse que “militares da Guarda Nacional Ucraniana que guardavam a usina nuclear deixaram as proximidades e desapareceram em direção desconhecida antes da chegada das unidades russas”. Segundo ele, “as instalações da estação e territórios adjacentes foram tomados sob guarda de militares russos”.
Konashenkov afirmou que a equipe técnica da usina ainda trabalha normalmente no local, mas que forças ucranianas começaram uma “provocação monstruosa” nas primeiras horas desta sexta-feira, resultando em confronto.
“Para provocar troca de tiros contra a usina, fogo de pequenas armas foi aberto contra membros da guarda russa a partir de janelas de diversos andares do complexo de treinamento localizado do lado de fora da usina”. Logo depois, “brigadas de incêndio chegaram no prédio e apagaram o fogo”.
Mais cedo, antes de o incêndio ser controlado, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, já havia afirmado que a medição de radiação, um dos principais temores, era “normal”.
Kuleba acusou soldados russos de atirarem “de todos os lados”, incluindo contra os bombeiros que tentam controlar as chamas, e ressaltou que, no caso de uma explosão, o impacto seria dez vezes maior do que o do acidente na usina de Chernobyl.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que a Rússia recorreu ao “terrorismo nuclear” e que se uma explosão ocorresse na usina seria “o fim de tudo, o fim da Europa”.
Trinta e um trabalhadores da usina e bombeiros morreram logo após o desastre de Chernobyl, em 1986, principalmente de doença aguda causada pela radiação. Outros milhares mais tarde sucumbiram a doenças relacionadas à radiação, como o câncer, embora o número total de mortes e os efeitos à saúde de longo prazo continuem sendo um assunto de intenso debate.
Líderes mundiais condenaram o ataque da Rússia à usina. O presidente americano, Joe Biden, pediu que as tropas russas cessassem as atividades militares na região e permitissem o trabalho de bombeiros e socorristas na central.
O premiê britânico, Boris Johnson, afirmou que o ataque “imprudente” da Rússia “ameaçava diretamente a segurança de toda a Europa”.
O ataque também foi condenado pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que afirmou que a ação “mostra a imprudência desta guerra e a importância de acabar com ela”.
Para o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, as consequências de confrontos no complexo da usina poderiam ser “catastróficas”.
“Ataques e o incêndio subsequente na usina nuclear podem colocar toda a Europa em perigo”, disse.
Segundo o governo ucraniano, desde o começo desta quinta-feira soldados russos vinham intensificando esforços para assumir o controle da usina. A Rússia já havia capturado a extinta usina de Chernobyl, a cerca de 100 quilômetros ao norte da capital da Ucrânia, Kiev.
O caso se dá em meio aos avanços russos em direção à capital ucraniana e ao cerco a outras cidades. Na noite de quarta-feira, o prefeito da estratégica cidade de Kherson, banhada pelo rio Dnieper e próxima do mar Negro, afirmou que forças russas assumiram controle. Segundo uma testemunha ouvida pela agência de notícias EFE, o centro da cidade “está completamente ocupado por militares russos e veículos blindados pesados”.
Mais a leste, em Mariupol, no Mar de Azov, na região de Donetsk, separatistas pró-russos apoiados pelos militares russos garantiram nesta quarta-feira que as suas forças bloquearam a cidade, de acordo com a imprensa russa.
Mais de 2.000 civis foram mortos desde o início da invasão russa à Ucrânia e centenas de estruturas, como instalações de transporte, hospitais, jardins de infância e prédios residenciais foram destruídos, relatou o serviço de emergência ucraniano na quarta-feira. De acordo com o último relatório militar russo, 1.502 alvos de infraestrutura militar ucraniana foram destruídos desde o início da operação militar na Ucrânia, em 24 de fevereiro.