Rússia vai barrar declaração do G20 se for ignorada na cúpula, diz Lavrov
Ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, representará o governo de Vladimir Putin na reunião em Nova Deli, na Índia
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, informou nesta sexta-feira, 1, que o país pretende bloquear a declaração conjunta da cúpula do G20, caso seus interesses não sejam levados em consideração. A reunião ocorre entre 9 e 10 de setembro, em Nova Deli, capital da Índia, sem a presença do presidente russo, Vladimir Putin.
“Não haverá nenhuma declaração geral em nome de todos os membros se a nossa posição não for refletida”, adiantou o chanceler em discurso aos estudantes do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou.
Parte do ministério há quase 20 anos, Lavrov representará o governo da Rússia no encontro do G20, bloco composto pelas maiores economias do mundo, sob a justificativa de que a agenda do presidente russo estaria “lotada”.
Não há registros de viagens internacionais de Putin desde a emissão da ordem de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), em março por crimes de guerra contra a Ucrânia. Ele também não esteve presente fisicamente na reunião do Brics, na semana passada, na África do Sul, participando apenas por videochamada.
Em julho, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou que o líder russo não iria ao encontro. Ramaphosa chegou a fazer um pedido ao TPI para que o país, signatário do estatuto da corte em Haia, fosse liberado de cumprir a ordem, sob forte pressão doméstica de opositores para executar o mandado caso Putin comparecesse. A decisão do Kremlin encerrou o impasse.
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Caso a Rússia decline a declaração conjunta, os países membros e a União Europeia (que participa como bloco) poderão realizar comunicados individuais ou parciais através da presidência G20, atualmente ocupada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É a primeira vez que o Brasil assume a liderança do grupo.
“Outra opção é adotar um documento que se concentre em decisões específicas na esfera das competências do G20, e deixar que cada um diga o resto em seu próprio nome”, disse Lavrov.
A Rússia ainda chama o conflito de “operação militar especial”, que teria como objetivo o suposto fim do genocídio russo, a “desnazificação” e “desmilitarização” ucraniana, bem como reter o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em países próximos ao seu território. Segundo o Kremlin, o Ocidente teria planos de controlar os recursos naturais russos.
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As acusações são veementemente negadas por nações ocidentais, majoritariamente aliadas da Ucrânia. Entre elas, por exemplo, estão Alemanha, Estados Unidos, Polônia e Reino Unido, que enviaram armas, munições e verba para o exército de Kiev.
O Brasil, no entanto, adere a uma posição de certa neutralidade para “construir a possibilidade do fim da guerra”, de acordo com Lula. Índia e China, por sua vez, mantêm negociações com Moscou. O presidente chinês, Xi Jinping, acusa o Ocidente de instigar o conflito através da ajuda militar.
Lavrov afirmou, ainda, que parte dos países do G20 tenta “impor” suas próprias agendas ao coletivo, e que teriam levantado questões relacionadas à Ucrânia em reuniões prévias à cúpula. Por isso, o chanceler acusa as nações ocidentais de terem “encerrado” o assunto, sem possibilidade de diálogo.