Russo vencedor do Nobel da Paz leiloa medalha por 103,5 milhões de dólares
Todo o valor será investido na ajuda a refugiados ucranianos, como prometido por fundador do periódico Novaya Gazeta, obrigado a fechar as portas em março
O editor-chefe do jornal independente russo Novaya Gazeta, Dmitry Muratov, anunciou nesta terça-feira, 21, que leiloou sua medalha do Prêmio Nobel da Paz por 103,5 milhões de dólares e que todo o dinheiro será investido para ajudar os refugiados da guerra na Ucrânia. Muratov foi premiado em 2021 pela sua atuação na liberdade de expressão na Rússia e já havia declarado em março a intenção de colocar o item à venda.
O veículo precisou fechar suas portas em março deste ano, logo após o início do conflito entre russos e ucranianos, em 24 de fevereiro, depois que o Kremlin proibiu a palavra “guerra” para descrever a situação no país vizinho, chamada pelo governo de “operação militar especial”. A pena varia desde multas pesadas até o completo fechamento.
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De acordo com a Heritage Auctions, casa de leilões responsável pelo processo, a venda da medalha irá beneficiar a resposta humanitária às crianças deslocadas da Ucrânia desde o começo da guerra. O vencedor do leilão não foi anunciado.
“A mensagem mais importante hoje é que as pessoas entendam que há uma guerra acontecendo e precisamos ajudar as pessoas que mais sofrem”, disse Muratov em um vídeo divulgado pela empresa.
Desde o início da guerra, mais de 7,3 milhões de pessoas atravessaram a fronteira da Ucrânia em direção a outros países, em sua maioria Polônia, Romênia, Moldávia e a própria Rússia. Destes, dois milhões correspondem a crianças e adolescentes, segundo dados da Unicef.
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O russo venceu o prêmio Nobel da Paz em 2021 juntamente com a jornalista filipina Maria Ressa, cofundadora do site de notícias online Rappler. Ambos são conhecidos por publicar investigações que irritam os governos de seus países e se tornaram símbolos na luta pela liberdade de expressão.
Criado em 1993, após a queda da União Soviética, o Novaya Gazeta era visto como o último grande reduto da imprensa livre na Rússia, mas vinha sofrendo pressões constantes do Roskomnadzor, órgão responsável pela supervisão do meios de comunicação no país.
“Recebemos duas advertências do Roskomnadzor. Melhor fecharmos, já que, se recebermos uma terceira advertência, podem retirar nossa licença, e isso significaria nosso desaparecimento”, disse à agência de notícias Efe a chefe de imprensa do veículo, Nadezhda Prusenkova, em março, ao anunciar o fechamento do periódico.
Maior veículo de oposição ao governo de Vladimir Putin, o jornal investigativo teve seis de seus funcionários mortos desde sua fundação, em 1993. O caso de maior repercussão foi o da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada em 2006, época em que preparava um artigo sobre tortura e seqüestros na Chechênia.