As visões opostas entre o Brasil e os Estados Unidos sobre a solução para a crise na Venezuela foram expostas durante encontro nesta segunda-feira, 13, em Brasília, entre o secretário americano da Defesa, general James Mattis, e os ministros brasileiros da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, e das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.
Nos últimos meses, em várias manifestações de suas autoridades, o governo dos Estados Unidos sinalizou com a possibilidade de uma intervenção militar no país vizinho. O governo brasileiro é totalmente contrário a uma intervenção externa, aposta na ajuda humanitária à população e espera a natural queda do regime, por esgotamento de recursos econômicos. Para o Brasil, também é importante o apoio aos refugiados venezuelanos e a ajuda humanitária aos que continuam no país.
Há um ano, em reunião com seus colaboradores diretos no Salão Oval, Trump sugeriu uma invasão militar para resolver a crise no “país problemático”. Sua equipe o demoveu. Mas a ideia continua a circular nos gabinetes da Casa Branca, em especial entre seus conselheiros de Segurança Nacional.
Washington tem aumentado suas sanções contra pessoas vinculadas ao regime de Nicolás Maduro. Também tem trabalhado em sintonia com o Brasil e com os demais membros do Grupo de Lima em prol de maior pressão da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre Caracas.
As importações americanas de petróleo da Venezuela têm caído, mas em razão da redução da produção — e não de medidas oficiais. A produção decrescente do único produto de exportação do país encurta a duração do regime de Maduro, na opinião do governo brasileiro.
“Uma intervenção externa na Venezuela somente contribuiria para fortalecer politicamente o governo de Maduro, que se diria mais uma vez vítima do imperialismo”, afirmou uma fonte do Itamaraty. “O produto interno bruto (PIB) da Venezuela caiu 15% desde 2014 e, apenas em 2018, deverá cair mais 15%. O regime está caindo no abismo que cavou”, completou.
O general Luna limitou-se a dizer que a situação da Venezuela é tema de preocupação para ambos os países e que Washington acredita na liderança do Brasil para a busca de uma solução. O general Mattis, porém, não deu declarações.
“A colocação dos EUA neste aspecto é muito prudente: considera que a solução deve ser liderada pelo Brasil e pergunta sempre como pode ajudar”, disse o general.
Acordo espacial
Durante sua reunião com o ministro da Defesa, Mattis tocou no acordo bilateral sobre cooperação espacial e o uso da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão, pelos Estados Unidos. Segundo Luna, Estados Unidos e Brasil esperam alcançar um “melhor aproveitamento comercial” da base.
A retomada de conversas sobre esse tema se deu durante a visita do vice-presidente americano Mike Pence ao Brasil, em julho. A dificuldade está na negociação de um Acordo de Salvaguardas, por meio do qual os Estados Unidos poderão manter sob confidencialidade e sem inspeção brasileira os equipamentos e tecnologias cobertos pelo direito de propriedade industrial. Nos anos 1990, o acordo não foi aprovado pelo Congresso brasileiro justamente por causa dessas concessões.
“Foi um encontro bastante proveitoso, que nos permitiu ter uma troca de percepções sobre diversos assuntos”, limitou-se a dizer o ministro da Defesa. O general Luna também disse ter discutido com Mattis a cooperação bilateral em defesa cibernética, uma “preocupação constante” para o governo brasileiro, e sobre o papel de ambos os países em missões de paz.
Mattis realiza sua primeira visita à América do Sul desde que passou a comandar o Pentágono, em janeiro de 2017. Amanhã, ele participará de um evento na Escola Militar de Guerra (ESG) e visitará o Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial. Depois, seguirá viagem para a Argentina, Chile e Colômbia.
(Com EFE)