Paris está conduzindo uma operação para desmantelar acampamentos improvisados onde vivem imigrantes e ciganos, como parte de um plano da França para “melhorar” a cidade antes dos Jogos Olímpicos, em 2024, que ocorrerão na capital.
Pelo menos 60 ocupações no bairro de Seine-Saint-Denis, uma região pobre a leste do rio Sena, foram fechadas em 2023, de acordo com um levantamento da agência de notícias Reuters baseado em documentos administrativos e judiciais e em entrevistas. Alguns ativistas e autoridades sugeriram que a prática parece ter objetivo de “embelezar” a área para o evento esportivo.
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Mais da metade das estruturas que estão sendo construídas ou reformadas para os Jogos Olímpicos, que começam em julho do ano que vem, estão localizadas em Seine-Saint-Denis, incluindo a Vila Olímpica. Uma delas, uma antiga fábrica de cimento a poucos passos da futura Vila dos Atletas e que abriga cerca de 400 migrantes, a maioria do Sudão e do Chade, foi fechada pela polícia em abril. Um acampamento cigano com 700 pessoas atrás da Arena Norte de Paris, em Villepinte, também foi fechado.
Com mais de 1,6 milhão de habitantes, Seine-Saint-Denis é o departamento mais pobre da França. A área tem o maior número de ocupações e favelas do país, de acordo com um relatório de 2021 da autoridade habitacional francesa.
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Lei contra ocupação
Em entrevista à Reuters, o Ministério do Interior da França afirmou que os despejos não estão conectados aos Jogos Olímpicos, e fazem parte de procedimentos judiciais regulares. A prática teria se tornado mais comum devido a uma nova lei, aprovada em julho, que impõe multas elevadas e penas de prisão para quem realiza ocupações ilegais no país.
No ano passado, segundo a pasta, houve quase 80 desmantelamentos de acampamentos improvisados. Com base neste dado, ativistas afirmam que a contagem da Reuters, de 60 despejos este ano, é quase certamente inferior à realidade.
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A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, alertou em novembro que a cidade não estaria “pronta” para fornecer teto aos desabrigados a tempo para a Olimpíada. Em maio, o então ministro da Habitação, Olivier Klein, disse que pessoas em situação de rua seriam realocadas para outras regiões da França e vinculou o esforço aos Jogos, dizendo que hotéis cujos quartos eram usados como moradia temporária estavam rescindindo contratos com o governo para receber turistas para o evento.
Consequências
Com o cerco às ocupações, pessoas já vulneráveis acabam em situações ainda mais instáveis. Segundo a Interlogement 93, operadora que gerencia projetos de habitação, o governo reduziu em 1.000 as vagas de hotéis sociais destinadas a receber pessoas em situação de emergência, uma queda de cerca de 10%.
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Segundo avaliação da Reuters, pelo menos 3 mil pessoas foram afetadas pelo fim dos acampamentos. Alguns acabam nas ruas de Seine-Saint Denis e outros distritos de Paris; outros migram para partes distantes da França. Até meados de dezembro, 3.329 pessoas foram transferidas da capital para alojamentos temporários em outros locais no país, segundo autoridades parisienses.
Destacando a situação, no dia 13 de dezembro, o Interlogamento 93 afirmou não haver mais abrigos disponíveis, deixando na rua 665 pessoas que ligaram para a organização, incluindo 54 mulheres grávidas. A organização afirmou que o número de pessoas que pediram ajuda neste mês, mas não obtiveram moradia, foi quase o dobro em comparação com dezembro do ano passado.