Sem conseguir formar governo, premiê do Líbano apresenta renúncia
Saída de Saad al-Hariri em meio a uma das maiores crises financeiras modernas aumenta tensões no país
O primeiro-ministro do Líbano, Saad al-Hariri, renunciou nesta quinta-feira, 15, após as tratativas para formar um novo governo falharem mais uma vez. O abandono do cargo diminui as chances de um gabinete ser acordado em breve para começar a resgatar o país do colapso financeiro.
Hariri anunciou sua decisão depois de se encontrar com o presidente Michel Aoun, dizendo que as discordâncias entre eles estavam evidentes, ressaltando a disputa política que bloqueou a formação de gabinete mesmo com o Líbano afundando na crise.
“Está evidente que não seremos capazes de concordar com vossa Excelência, o presidente”, disse Hariri a repórteres após encontro de cerca de 20 minutos com Aoun. “É por isso que me peço licença da formação do governo”.
Hariri afirmou que Aoun havia solicitado mudanças fundamentais à formulação do gabinete que havia apresentado à Presidência na quarta-feira. Aoun então afirmou que não chegariam a um consenso, disse o premiê.
No Líbano – um país multirreligioso onde o presidente deve ser um cristão maronita, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e o chefe do Parlamento um muçulmano xiita –, os líderes se veem muitas vezes forçados a um cabo de guerra sem fim que prolonga por meses a formação de governo.
Hariri, principal político muçulmano sunita do Líbano, foi designado em outubro para montar um governo após a renúncia do gabinete do primeiro-ministro Hassan Diab, depois da traumática explosão no porto de Beirute, que deixou mais de 200 mortos e milhares de feridos.
A comunidade internacional esperava que um novo governo empreendesse amplas reformas. No entanto, Banco Mundial descreveu a depressão do Líbano como uma das mais agudas da história moderna.
Em 2019, políticas equivocadas do Banco Central resultaram em uma dívida pública de 150% do PIB. No ano passado, o governo restringiu os saques nos bancos, a libra virou pó, a inflação chegou a 50% e um empréstimo de 10 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional empacou. Prevê-se que metade dos libaneses cruzará a linha da pobreza este ano.