Sem definir data de partida de tropas, Putin faz exigências à Ucrânia
Ministério da Defesa recebeu ordem para ação de 'manutenção da paz' em regiões separatistas do leste ucraniano, reconhecidas como independentes por Moscou
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou esta terça-feira, 22, que não irá enviar tropas imediatamente para as regiões separatistas pró-Moscou do leste da Ucrânia, reconhecidas como independentes por ele.
Na última segunda, o Kremlin publicou um decreto ordenando que o Ministério da Defesa envie tropas para “funções de manutenção da paz” para as autoproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Luhansk, pouco após reconhecer a independência das duas regiões.
No entanto, Putin disse ser impossível prever com antecedência quais serão as ações militares em Donbas e afirmou que as movimentações irão depender dos rumos que serão tomados na região.
“Eu não disse que nossas tropas irão partir imediatamente. Iremos ajudar em caso de conflito militar”, afirmou o presidente.
O líder russo aproveitou ainda para colocar mais pressão sobre a Ucrânia e seu presidente, Volodymyr Zelensky, afirmando que a melhor solução para acabar com a crise seria o país desistir de entrar na Otan, principal aliança militar ocidental e grande ponto de atrito entre a Rússia e o Ocidente.
“A melhor solução para essa questão seria que as autoridades em Kiev se mantivessem na neutralidade e desistissem de entrar na Aliança”, afirmou.
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Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos trinta aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.
Em fala nesta terça-feira, Putin também fez menção também aos Acordos de Minsk, negociados em 2015, sob mediação da Alemanha e França, para um cessar-fogo nas duas regiões, que teriam em troca autonomia administrativa. Segundo ele, não há mais nada para ser cumprido e culpa o governo da Ucrânia pelo fracasso do acordo.
Mais cedo, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, pediu para que os países ocidentais enviem mais armamento para seu país para ajudá-los a resistir contra a Rússia.
“Enviei uma carta ao secretário das Relações Exteriores do Reino Unido pedindo armas defensivas adicionais para a Ucrânia. Farei o mesmo também com os Estados Unidos”, disse.
Kuleba afirmou ainda que as melhores garantias para a resolução do conflito são armas e diplomacia, e que será necessário mobilizar o mundo inteiro para fortalecer suas defesas. Também nesta terça, ele deve se reunir com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, para discutir sobre o envio de novos armamentos.
No início deste mês, países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, enviaram armas para a Ucrânia, incluindo mísseis antitanque e lançadores. A medida foi duramente criticada pelo Kremlin, que acusou o Ocidente de aumentar a pressão política sobre Moscou. Para o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, os suprimentos representam “chantagem e pressão” ocidentais.