Separados por uma barreira de acrílico e a quatro metros de distância, o vice-presidente, Mike Pence, e a candidata à vice na chapa democrata, a senadora Kamala Harris, protagonizam seu primeiro debate televisionado nesta quarta-feira, 7. O que tinha tudo para ser um encontro menos chamativo que o bate-boca entre Donald Trump e Joe Biden, agora tem ampla projeção nacional, já que o recente avanço de casos Covid-19 dentro da Casa Branca estará em pauta.
As atenções estarão voltadas para Harris, que devido ao seu histórico como ex-procuradora e sua atuação no Comitê Judiciário do Senado, deve colocar Pence contra a parede, citando principalmente o papel do vice-presidente como líder da força tarefa do governo no combate à pandemia.
O debate acontecerá na Universidade de Utah, em Salt Lake City, às 22h, no horário de Brasília. A mediação será da jornalista Susan Page, do jornal USA Today.
Aquecendo ainda mais o assunto está o fato de o encontro acontecer apenas seis dias após Trump ser diagnosticado com Covid, junto com diversas pessoas próximas, e três dias depois de ele deixar o hospital militar em que estava internado.
Além do presidente e da primeira-dama, Melania Trump, os casos positivos conhecidos incluem Hicks, o guarda-costas de Trump, Nick Luna, um assessor de imprensa não identificado, a ex-conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, o gerente de campanha de Trump, Bill Stepien, a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel, o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, e os senadores republicanos Thom Tillis, Mike Lee e Ron Johnson.
Fontes próximas à senadora disseram ao site POLITICO, no entanto, que ela se sente mais a vontade para pegar pesado com Trump, usando Pence apenas “como uma testemunha na acusação”.
O atual vice, por sua vez, estará na defensiva. Se as eleições fossem antes da pandemia, o republicano usaria o crescimento da economia americana e a taxa mais baixa de desemprego da história como pontos positivos do atual governo. Agora, Pence apostará suas fichas em, além de defender o presidente, atacar o Congresso de maioria democrata devido ao fracasso do plano de estímulo da economia. O principal ponto que Pence terá que contornar são os ataques a Harris, experiente debatedora.
Além disso, outro fator também eleva a importância do encontro: ambos os candidatos a vice são ao menos uma década mais novos que os cabeça de chapa. Dada a idade dos candidatos à Presidência, os vices precisam mostrar que têm vitalidade e capacidade para assumir o cargo se algo acontecer. Pence tem 61 anos e Trump 74, já Harris está com seus 55 anos e Biden é o mais velho, com 77.
Até agora, a campanha democrata ficou focada em não ser midiática, evitar comícios ou até mesmos repórteres. A estratégia é deixar com que as ações do atual governo falem por si. Se o ex-vice-presidente Biden segue razoavelmente discreto, a sua companheira de chapa fica ainda mais escondida das câmeras. A estratégia não deixa brechas para a campanha de Trump reforçar a retórica de que Harris seria uma espécie de cavalo de Tróia liberal que forçaria políticas progressistas dentro do governo.
As questões raciais também farão presença no debate. Harris é descendente de indianos e jamaicanos, Pence representa a população branca e religiosa do país. Os dois seguem em lados opostos da discussão que surgiu dos grandes protestos após a morte de George Floyd, assassinado por um policial branco já sob custódia.
Enquanto a senadora é favorável a uma reforma nas leis e na polícia. Trump, e por consequência Pence, tenta se mostrar desde o início de sua campanha como um candidato da “lei e da ordem”.
Nas pesquisas nacionais, e até estaduais, a chapa democrata se encontra em larga vantagem. Numa pesquisa divulgada pela CNN, Trump está com 41% das intenções de voto contra 57% de Biden, 16 pontos percentuais de diferença.