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Símbolos nazistas e manifestações antissemitas aumentam no mundo

EUA e Europa são palcos de atos de violência e de vandalismo; pesquisa aponta existência de 334 células nazistas no Brasil

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 30 jul 2020, 19h31 - Publicado em 17 jan 2020, 19h33

Ao parafrasear texto de Joseph Goebbels, o execrável ministro da propaganda de Adolf Hitler, em um vídeo de lançamento do Plano Nacional das Artes, Roberto Alvim exprimiu uma afinidade com o ideário nazista que não deixou outra solução ao governo de Jair Bolsonaro senão demiti-lo do cargo de secretário da Cultura. Sua iniciativa, infelizmente, não está isolada. Na Europa e nos Estados Unidos, discursos de ódio e atos de antissemitismos acompanhados pelos símbolos do nazismo têm aparecido cada vez mais nas ruas, quase sempre com demonstrações de violência, e alarmando governos e entidades de direitos humanos.

Os mais trágico episódio deu-se na noite de 28 de dezembro na casa do rabino Chaim Rottenberg em Monsey, no estado de Nova York, durante a celebração do Hanukkah. Um homem ingressou nessa residência e esfaqueou cinco pessoas. Dias antes, um mercado de comida judaica em Jersey City, no vizinho estado de Nova Jersey, fora alvo de uma artilharia que vitimou três pessoas. Como não bastasse, a proliferação de suásticas e de discurso de ódio popular neste início de ano do Queens, na cidade de Nova York, está em investigação desde o último dia 14 por ordem do governador Andrew Cuomo. “Este gritante ato antissemita pretende incitar e espalhar o câncer do ódio, que tem permeado esta nação nos últimos anos”, afirmou.

Relatório do Centro para o Estudo do Ódio e Extremismo da Universidade do Estado da Califórnia apontou que os crimes de ódio antissemita em Nova York, Los Angeles e Chicago – as três maiores cidades do país – estão prestes a atingir o pico em 18 anos. O total desses crimes no ano passado em Nova York, onde está a maior comunidade judaica das Américas, aumentou cerca de 20% em comparação com 2018, segundo a polícia local.

Na Europa, que padeceu diretamente os terríveis males causados pelo nazismo, os casos se repetem com força equiparável aos dos Estados Unidos. Relatório do Comitê Nacional Consultivo de Direitos Humanos da França de maio de 2019 apontou aumento de mais de 74% nos atos de antissemitismo em 2018, comparado ao ano anterior – de 311 para 541 casos. Na Alemanha houve 1.646 ataques no mesmo ano, com 62 ataques físicos contra 37, em 2017, segundo o Observatório de Direitos Humanos (HRW), enquanto no Reino Unido foram registrados 1.652 incidentes em 2018.

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Em 4 de dezembro passado, na cidade francesa de Westhoffen, mais de 107 lápides de um cemitério judeu foram pichadas com imagens de apologia ao nazismo. Os vândalos também grafaram inscrições do número “14” nas lápides, em referência ao slogan de 14 palavras do supremacista branco americano David Lane, que morreu em 2007 enquanto cumpria pena de 190 anos de cadeia por conspiração, falsificação e extorsão, dentre outros delitos. O bordão foi inspirado em um trecho do livro Mein Kampf, de Adolf Hitler. 

No mesmo dia, a 20 quilômetros dali, a prefeitura e a sinagoga de Schaffhouse-sur-Zorn foram vandalizadas por neonazistas. Essa cidade e a vizinha Westhoffen estão na região da Alsácia, na fronteira com a Alemanha, onde pelo menos outros dois incidentes semelhantes tinham ocorrido desde dezembro de 2018.

A percepção de aumento de atitudes antissemitas na Europa tem gerado temor na comunidade judaica. Mas os imigrantes vindos do Oriente Médio e da África, outras vítimas contumazes do discurso de ódio e da virulência de grupos neonazistas/supremacistas, nem sempre contam com a proteção do Estado. Ao contrário, têm sido alvos de medidas de governos, como o da Hungria, que restringem o acesso de deles.

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O aumento da imigração desde 2015, quando milhares de refugiados sírios e de outros países árabes fugiram desesperadamente para a Europa, gerou resistências locais e alimentou o crescimento de partidos de extrema direita, como o alemão Alternativa para a Alemanha e o húngaro Fidesz, que levou o ultraconservador Viktor Orbán ao poder na Hungria.

No Brasil, há 334 células nazistas, segundo mapeamento realizado pela antropóloga Adriana Magalhães Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Esse universo se divide em 17 movimentos, entre os quais os hitleristas, supremacistas/separatistas, negadores do Holocausto e seções locais da Ku Klux Klan. A maior concentração está em São Paulo, com 99 grupos, em Santa Catarina, com 69, no Paraná, 66, e Rio Grande do Sul, 47.

Desde 1997, a lei 9.459 ampliou o escopo dos crimes de racismo no país e também incluiu como delitos “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”. A legislação foi aplicada no caso do fazendeiro José Eugênio Adjuto, de Unaí (MG), que sentou-se em um bar com um símbolo nazista pregado na manga da camisa. Mas os números evidenciados na pesquisa da Unicamp e as manifestações de apoio ao pronunciamento de Roberto Alvim nas redes sociais indicam ser necessária a atenta e rápida aplicação da lei no país.

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