Sob 94 ações por pedofilia, franciscanos da Califórnia declaram falência
Processos descrevem abusos sexuais ocorridos entre 1940 e 1996; outras dioceses seguiram o mesmo caminho devido a avalanche de casos
Os franciscanos da Califórnia, nos Estados Unidos, anunciaram nesta terça-feira 2 que declararam falência para enfrentar quase uma centena de denúncias de abuso sexual e pedofilia.
A ordem entrou discretamente com um pedido de Capítulo 11 no último domingo, 31 de dezembro, que no dialeto da Igreja Católica significa uma reestruturação interna para garantir o cumprimento de obrigações financeiras diante das acusações.
Modus operandi da falência
David Gaa, chefe da ordem nos Estados Unidos, garantiu que a decisão de declarar falência visa garantir que as vítimas recebam “uma compensação justa”.
“Cuidar das vítimas de abuso é a nossa principal preocupação e a nossa resposta sempre esteve na vanguarda”, disse Gaa em comunicado. “Após consultar nossos advogados e conselheiros financeiros, concluímos que os custos de litígio e prováveis responsabilidades para com terceiros excederiam nossas capacidades financeiras”, explicou.
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Antes disso, a Arquidiocese de São Francisco havia declarado falência em agosto de 2023. Tal como os franciscanos fizeram agora, os responsáveis por 88 paróquias em três condados da Califórnia argumentaram que era a única saída possível para “gerir e resolver” nos tribunais as mais de 500 denúncias de crimes sexuais contra o grupo. As ordens em Oakland e Santa Rosa fizeram o mesmo meses antes.
Os casos
No total, os frades receberam 94 autuações por crimes sexuais, que ocorreram entre 1940 e 1996, a grande maioria na própria Califórnia. Segundo eles, quase todos os agressores já morreu – apenas seis clérigos acusados ainda estão vivos, que foram suspensos permanentemente e vivem “sob supervisão confiada a terceiros”, e o caso mais recente ocorreu “há pelo menos 27 anos”, estipulou a ordem.
Em 2019, a Califórnia facilitou os caminhos para que vítimas de abuso pudessem denunciar agressores em tribunais. Uma lei ampliou o limite de idade para levar um caso à corte de 26 para 40 anos, para permitir que sobreviventes tenham mais tempo para processar seus traumas.
Transparência
Apesar de serem alvo constante de denúncias, os franciscanos também assumiram um papel ativo no julgamento desses crimes. Quando a Califórnia expandiu os direitos das vítimas, os franciscanos em seguida forneceram à justiça 18 nomes de predadores sexuais investigados dentro da própria ordem. A organização afirma ser mais transparente sobre o tema do que outros braços da Igreja.
“Os Frades Franciscanos da Califórnia foram a primeira grande instituição religiosa a chegar a um acordo judicial, criando não apenas um precedente além da reparação financeira dos danos”, disse a ordem em comunicado.