O porta-voz do governo do Sri Lanka, Rajitha Senaratne, anunciou nesta segunda-feira, 22, que um grupo terrorista islâmico local, chamado National Thowheeth Jama’ath (NTJ), está por trás da série de atentados em igrejas e hotéis que deixou 290 mortos no último domingo 21.
Apesar dos sete autores dos ataques serem do Sri Lanka, há suspeitas de eventuais vínculos da organização com grupos estrangeiros, segundo o porta-voz. “Não acreditamos que uma organização pequena deste país possa fazer tudo isso. Estamos investigando o apoio internacional e outros vínculos”, disse Senaratne.
Os ataques não foram reivindicados até o momento e a presidência decretou estado de emergência a partir desta terça-feira à meia-noite (15h30 de Brasília de segunda) em nome da “segurança pública”.
O NJT se tornou conhecido no ano passado por atos de vandalismo contra estátuas budistas. A polícia foi alertada há dez dias que o grupo preparava atentados suicidas contra igrejas e a embaixada da Índia em Colombo.
O primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe admitiu que o governo já tinha informações sobre ataques a igrejas envolvendo um grupo islâmico pouco conhecido.
As autoridades cingalesas anunciaram até o momento a prisão de 24 pessoas, mas não revelaram detalhes sobre nenhuma delas. O presidente Maithripala Sirisena comandou nesta segunda uma reunião do conselho de segurança sobre os atentados.
Segundo Senaratne, o primeiro-ministro e seu gabinete não foram informados pelo conselho de segurança sobre os alertas recebidos pela polícia sobre os atentados. “Não estamos tentando fugir da responsabilidade, mas esses são os fatos. Ficamos surpresos ao ver esses relatórios”, disse.
De acordo com o porta-voz, Wickremesinghe não era convidado a comparecer às reuniões do conselho, comandadas por Sirisena.
A tensão entre o primeiro-ministro e o presidente ficou bem conhecida, após a tentativa fracassada de Senaratne de demitir Wickremesinghe em outubro do ano passado. Na época, havia grandes preocupações de que o país pudesse voltar a entrar em um caos político por conta das disputas de poder.
O porta-voz pediu a renúncia do chefe da Polícia local após os ataques. Segundo o jornal americano The New York Times, foi um alto integrante da polícia do Sri Lanka que advertiu o governo, há 10 dias, sobre o risco de atentados contra igrejas no país.
Estado de emergência
Entre as medidas proposta pelo estado de emergência, instaurado pelas autoridades locais a fim de aumentar a segurança no país, estão o bloqueio das redes sociais e o decreto de um toque de recolher.
O governo já havia anunciado no domingo que iria bloquear temporariamente as redes para evitar a disseminação de notícias falsas e acalmar tensões durante o período de investigações. Elas temem que boatos alimentem discursos de ódio e gerem mais violência.
Segundo a rede de monitoramento NetBlocks, estão fora do ar Facebook, WhatsApp, Instagram, YouTube, Viber, Snapchat e Facebook Messenger.
O governo também impôs um toque de recolher das 18h às 6h (horário local).
Ataques quase simultâneos
No domingo foram registradas seis explosões em um período curto durante a manhã e outras duas no período da tarde. O Sri Lanka é um destino turístico muito procurado por suas praias idílicas e natureza selvagem
Na capital Colombo, três hotéis de luxo à beira-mar – Cinnamon Grand Hotel, Shangri La e Kingsbury – e a igreja de Santo Antônio foram atacados no domingo de maneira praticamente simultânea entre 8h30 e 9h locais (0h e 0h30 de Brasília).
Também foram detonadas bombas na igreja de São Sebastião de Negombo e outra na cidade de Batticaloa, na costa leste da ilha.
Poucas horas depois aconteceram outras duas explosões, a primeira no hotel Dehiwala, no subúrbio de Colombo, e a segunda em Orugodawatta, Zona Norte da capital, onde um homem-bomba detonou sua carga durante uma operação policial.
No domingo à noite, uma bomba de fabricação caseira foi encontrada e desativada na estrada que segue até o aeroporto de Colombo.
Nesta segunda-feira, a polícia do Sri Lanka anunciou que encontrou 87 detonadores na estação de ônibus de Bastian Mawatha em Pettah, bairro da capital que fica entre os hotéis e as igrejas atingidos pelas explosões.
Também foi registrada uma explosão na capital durante uma operação para desativar uma bomba em uma caminhonete estacionada perto de uma das igrejas atacadas no domingo. As autoridades não informaram sobre vítimas.
(Com AFP e Estadão Conteúdo)