Starmer é oficializado premiê após reunião com rei Charles em Buckingham
Político recebeu do monarca a missão de formar um novo governo, o primeiro trabalhista depois de 14 anos de poder dos conservadores
Líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer é oficialmente o novo primeiro-ministro do Reino Unido, após uma reunião nesta sexta-feira, 5, com o rei Charles III. No Palácio de Buckingham, o político recebeu do monarca a missão de formar um novo governo, o primeiro trabalhista depois de 14 anos de poder dos conservadores.
“O rei recebeu hoje em audiência o honorável deputado Keir Starmer e solicitou que formasse uma nova administração. Sir Keir aceitou a oferta de Sua Majestade e beijou as mãos ao ser nomeado primeiro-ministro e primeiro-lorde do Tesouro”, informou o Palácio de Buckingham em nota. O nome de Starmer aparece no alto da lista de buscas dos brasileiros nesta sexta, 5, com mais de 10 mil pesquisas no Google Trends.
Na última atualização da contagem dos votos da eleição de quinta-feira, os trabalhistas já haviam conquistado 412 assentos, bem mais do que os 326 necessários para governar com maioria absoluta. Starmer sucede como premiê o conservador Rishi Sunak, que mais cedo apresentou sua renúncia ao rei Charles, depois de ver seu partido minguar e ficar com 120 cadeiras.
Primeiro discurso como premiê
Em seu primeiro discurso como novo primeiro-ministro, do lado de fora da sede do governo, em Downing Street, Starmer prometeu reconstruir o país “tijolo por tijolo e afirmou que “a política pode ser uma força para o bem”.
“Quer você tenha votado no Partido Trabalhista ou não — na verdade, especialmente se você não votou —, eu lhe digo diretamente, meu governo irá servi-lo.”
À pequena multidão reunida para seu discurso, afirmou que, por muito tempo, os olhos foram fechados enquanto “milhões caíram em maior insegurança”. Ele menciona que as pessoas estão trabalhando duro e fazendo a coisa certa, mas quando “as câmeras param de rodar, suas vidas são ignoradas”.
“Quero dizer muito claramente a essas pessoas — não desta vez”, ressaltou.
Socialista militante de 61 anos convertido em parlamentar pragmático, famoso por mudar de opinião conforme os interesses do momento (apelido: Camaleão), Starmer assumiu o comando dos trabalhistas em 2019 por ser o exato oposto do então líder Jeremy Corbyn, um ultraesquerdista frequentemente acusado de antissemitismo, que levou o partido à sua pior derrota eleitoral em oitenta anos.
Uma vez na liderança, Starmer tratou de expurgar as alas à esquerda, direcionou a sigla para o centro e abraçou bandeiras do outro lado, particularmente caras ao eleitorado, como a repressão à imigração ilegal.
Cenário desfavorável
Por que, em cenário tão desfavorável, Sunak resolveu antecipar as eleições programadas inicialmente para o fim do ano? Segundo especialistas, por desespero — se arrastasse a agonia, seu partido iria sangrar mais ainda.
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O primeiro-ministro aproveitou a volta da inflação ao aceitável patamar de 2% em maio (eram 11% em 2022, quando ele assumiu, a maior em quarenta anos) e a dificultosa aprovação de seu projeto anti-imigração, calcado na deportação de indesejáveis para Ruanda, para convocar uma eleição em que a derrota é certa, na esperança de se sair um pouco melhor do que indicam as pesquisas e evitar um vexame total.
A principal estratégia dos trabalhistas nesta eleição foi bater no Partido Conservador — o que não é muito difícil. No Serviço Nacional de Saúde, que já foi um orgulho britânico e passou por seguidos cortes de verba nos governos conservadores, 40% dos pacientes aguardam mais de quatro horas por atendimento nos prontos-socorros e a internação em hospitais pode levar até doze horas.
O Brexit, do qual a maioria dos apoiadores de 2016 hoje se arrepende, não trouxe o impulso esperado. Pelo contrário, a economia estagnada reduz a produtividade a seu nível mais baixo desde a Revolução Industrial, a renda média dos britânicos é hoje 43% menor do que a dos americanos, a crise imobiliária faz com que o número de sem-teto no país seja o mais alto do mundo desenvolvido e o crescimento médio do PIB, do divórcio da União Europeia até 2025, deve ser de parco 0,8%.
Responsáveis maiores pelo declínio, os conservadores se dividiram, e uma ala mais à direita vive em pé de guerra com os colegas mais tradicionais. As brigas internas paralisaram e derrubaram governos — foram cinco em oito anos.
Uma vez no poder, os trabalhistas falam em trazer de volta o crescimento por meio de uma nova política industrial, marcada por subsídios e proteção contra a concorrência externa, mas não pretendem se desviar da austeridade em vigor e avisam que vão aumentar impostos — só garantem mesmo a manutenção do imposto de renda como está. “Starmer fez propostas realistas, semelhantes às dos conservadores”, disse Steven Fielding, professor de história política da Universidade de Nottingham, em entrevista a VEJA.