Duas pessoas foram internadas em estado crítico no hospital de Salisbury, na Inglaterra, após serem expostas a uma “substância desconhecida” em Amesbury, a poucos quilômetros de onde o ex-espião russo Serguei Skripal teria sido vítima de uma tentativa de envenenamento.
O comitê de emergência britânico (Cobra), formado pelos principais ministros e por representantes das forças de segurança do Reino Unido, reuniu-se nesta quarta-feira para tratar o caso. Uma unidade antiterrorista britânica trabalha junto com a polícia de do Condado de Wiltshire na investigação.
“Este é um incidente que, compreensivelmente, é tratado com a máxima seriedade. Os ministros e a primeira-ministra (Theresa May) foram informados” da situação, disse um porta-voz do governo.
O caso foi qualificado pela polícia como “incidente grave” e guarda grandes semelhanças com o do ex-espião russo Sergei Skripal, de 67 anos, e sua filha Yulia, de 33, ambos envenenados em março com um agente químico na cidade inglesa de Salisbury.
Os dois pacientes “estão sendo tratados por suposta exposição a substância desconhecida no hospital de Salisbury”, informou hoje a polícia do condado de Wiltshire, que qualificou o fato de “incidente importante”. Ambos estão no Hospital do Distrito de Salisbury, que tratou Skripal e sua filha até que os dois recebessem alta.
As duas pessoas, um homem e uma mulhe,r ambos com cerca de 40 anos, foram encontrados inconscientes no último sábado (30), em uma casa da cidade de Amesbury, a alguns quilômetros de Salisbury, a mesma cidade onde Skripal e sua filha Yulia foram vítimas de uma tentativa de envenenamento em 4 de março passado, segundo o governo britânico.
Os dois pacientes “se encontram em estado crítico”, afirmou a polícia.
Em um primeiro momento, as autoridades acreditaram que ambos haviam sido vítimas de uma overdose de heroína ou crack. Mas depois de quatro dias, a polícia informou que estavam sendo realizados exames adicionais “para estabelecer a natureza da substância que afetou estes pacientes”.
Do mesmo modo, os Skripal foram encontrados inconscientes em um banco na rua, perto de um centro comercial, e os primeiros depoimentos mencionaram a possibilidade de que fossem viciados. “Estamos abertos no que diz respeito às circunstâncias do incidente”, indicou a polícia.
Nenhum risco para a população
Vários cordões de segurança foram instalados para isolar os locais onde as vítimas podem ter passado. O contingente policial está reforçado em Amesbury e Salisbury. As autoridades fecharam ao público o parque Queen Elizabeth Gardens de Salisbury, de acordo com a rádio local Spire, e a polícia reforçou a presença diante da igreja batista de Amesbury, informou o jornal The Guardian, porque as autoridades acreditam que as vítimas compareceram a um culto antes de serem encontradas inconscientes.
A agência estatal Public Health England (PHE) avaliou que o caso “não representa um risco significativo de saúde para o público em geral”. Uma constatação que será, no entanto, “continuamente reavaliada, em função das informações obtidas”, afirmou um porta-voz do PHE, citado pela agência Press Association.
Robert Yuill, vereador do condado de Wiltshire, disse que “a reação é menos intensa” do que no atentado contra os Skripal. “Não se pode comparar”, afirmou.
Natalie Smyth, 27 anos, moradora daquela zona de Amesbury, contou que no sábado viu “caminhões de bombeiros, ambulâncias, a rua fechada”, além de agentes com trajes de proteção contra ameaças bioquímicas. “Disseram que era um incidente químico e depois que tinha relação com drogas. É muito estranho, este é um lugar muito tranquilo”, disse.
No dia 4 de março, Serguei e Yulia Skripal foram encontrados inconscientes e levados para um hospital de Salisbury em estado crítico depois de beber uma cerveja em um pub e almoçar em um restaurante italiano. As autoridades concluíram que a dupla foi vítima de uma tentativa de assassinato com um agente químico. Os dois foram tratados durante semanas, recuperaram-se e receberam alta médica.
Londres acusou Moscou de estar por trás do caso Skripal, um ex-coronel do serviço secreto militar russo condenado por traição por repassar segredos para Londres e que se mudou para a Inglaterra após uma troca de espiões.
O Kremlin negou qualquer envolvimento, mas o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, denunciou que o ataque foi cometido com um agente químico da variedade “novichok”, que é fabricado em laboratórios militares russos e havia apenas duas opções: que teria sido utilizado por Moscou ou que as autoridades russas teriam perdido o controle da substância.
O incidente provocou uma crise diplomática entre os dois países e uma onda de expulsões cruzadas de diplomatas por parte do Reino Unido e países aliados, de um lado, e da Rússia, do outro.
(Com AFP e EFE)