O governo do Sudão do Sul e a Organização das Nações Unidas declararam nesta segunda-feira que uma parte da população do país sofre de inanição, com 100.000 famélicos e milhões de pessoas precisando de assistência nutricional. “Nosso maior temor se concretizou. Muitas famílias esgotaram todos os meios que tinham para sobreviver”, disse Serge Tissot, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
A declaração formal de inanição por um país, registrada pela última vez em 2011 na Somália, onde mais de 250 milhões de pessoas morreram de fome, foi feita na capital Juba por autoridades e representantes de agências da ONU. A severa escassez de alimentos no Sudão do Sul ocorre em função de guerra civil e uma grave crise econômica.
O Sudão do Sul vive um conflito armado desde 2013, quando o presidente Salva Kii demitiu seu vice, acusando-o de planejar um golpe de Estado. Desde então, muitos fazendeiros ficaram impossibilitados de efetuar as colheiras em função da guerra civil. Por outro lado, a hiperinflação, que ultrapassou 800% no ano passado, causa o aumento no preço de alimentos importadas.
A guerra também agravou os conflitos étnicos já existentes no país, levando a ONU a alertar sobre um possível genocídio. “A principal tragédia do relatório apresentado hoje (…) é que se trata de um problema provocado pelo homem”, denunciou Eugene Owusu, coordenador humanitário das Nações Unidas para o Sudão do Sul.
Partes do país também foram atingidas por secas. “Alguns condados estão classificados com escassez absoluta de alimentos ou em risco que isso aconteça”, disse Isaiah Chol Aruai, presidente do Escritório Nacional de Estatística do Sudão do Sul, durante entrevista coletiva.
A fome é oficialmente declarada em um país quando certos números de mortalidade, má nutrição e inanição são atingidos: menos de 20% das famílias de uma região enfrentam extrema escassez de alimentos, as taxas de desnutrição aguda ultrapassam 30% e a taxa de mortalidade excede duas pessoas por dia por cada 10.000 pessoas.
O acordo de paz assinado em agosto de 2015, que facilitou a formação de um governo de unidade, não foi cumprido devido aos combates que explodiram em Juba em julho do ano passado.
(Com agências AFP e Reuters)