O Talibã completa nesta terça-feira, 15, dois anos desde a retomada do poder no Afeganistão, em meio à progressiva perda de direitos femininos. Com o controle depois da retirada das tropas americanas do país, as autoridades do grupo fundamentalista alegam ter restabelecido a segurança em todo o território afegão a partir da aplicação do sistema islâmico.
“No segundo aniversário da conquista de Cabul, gostaríamos de parabenizar a nação mujahid (sagrado guerreiro) do Afeganistão e pedir-lhes que agradeçam a Deus Todo-Poderoso por esta grande vitória”, disse o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, em um comunicado.
Como parte da “guerra ao terror” promovida pelo ex-presidente americano George W. Bush, soldados americanos estabeleceram bases no Afeganistão após os atentados de 11 de setembro, ocorridos em 2001. Durante a campanha presidencial de 2017, mais de uma década depois do início do conflito, Donald Trump prometeu que, caso eleito, encerraria as “guerras sem fim” comandadas pelos Estados Unidos.
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Eleito, ele assinou, ao lado de um representante do Talibã, um acordo que estabeleceu um cronograma de retirada das tropas americanas para a suposta promoção da segurança no país, devastado pela guerra mais longa da história americana, em 2020. Em contrapartida, o grupo fundamentalista não deixaria que “nenhum de seus membros, ou outros indivíduos ou grupos, incluindo a Al-Qaeda, usar o território afegão para ameaçar a segurança dos Estados Unidos e de seus aliados”.
O acordo foi continuado pelo governo de Joe Biden e, um ano após a assinatura, quando os últimos militares eram retirados do país, o movimento radical iniciou uma ofensiva que tinha como destino o palácio presidencial de Cabul, capital afegã, para a destituir o presidente do país, Ashraf Ghani, e todo o seu governo. Enfraquecidas pela perda de apoio ocidental, as forças de segurança locais não tiveram capacidade de defesa.
Apesar da redução dos conflitos internos nos últimos dois anos, as Nações Unidas apontam que dezenas de ataques foram realizados contra civis, alguns reivindicados pelo Estado Islâmico, rival do Talibã. A atuação da imprensa e os direitos femininos, além disso, foram duramente atacados pelos fundamentalistas, que mantém “mulheres desobedientes em casa”. Eles restringiram, então, o acesso de mulheres à educação e à carteira de habilitação, proibiram viagens desacompanhadas e tornaram o uso do hijab, véu muçulmano, obrigatório, por exemplo.
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“Faz dois anos desde que o Talibã assumiu o poder no Afeganistão. Dois anos que mudaram a vida de mulheres e meninas afegãs, seus direitos e futuro”, defendeu Amina Mohammed, vice-secretária-geral da ONU, em um comunicado — as mulheres foram, inclusive, proibidas de exercerem cargos na ONU, em abril deste ano.
A segurança foi reforçada na capital nesta terça-feira, em meio a um feriado nacional. Ministérios realizaram reuniões comemorativas, ao passo que combatentes do Talibã e parte dos moradores de Cabul fizeram desfiles informais em seus veículos, que transportavam soldados e crianças agitando bandeiras do grupo. A data, no entanto, é apenas uma lembrança das perdas sofridas nos últimos dois anos para algumas mulheres, como a ex-professora Maryam, de 27 anos.
“O dia me lembra de dois anos atrás e tenho a mesma sensação de dois anos atrás, que foi realmente terrível”, disse, ao relembrar que perdeu seus empregos em sala de aula e em um projeto internacional que ocupava.