O presidente Michel Temer afirmou, em entrevista à Rádio Jornal de Pernambuco nesta quarta-feira 29, que o governo federal considera limitar a entrada diária de venezuelanos pela fronteira com o Estado de Roraima.
Segundo Temer, as autoridades estudam a distribuição de senhas para os imigrantes, para impedir que mais de 200 venezuelanos entrem no Brasil por dia.
“Eles pensam em, quem sabe, colocar senhas de maneira que entrem 100, 150 ou 200 por dia”, afirmou. “E cada dia entre um determinado número para organizar um pouco mais essas entradas”, completa.
De acordo com o presidente, atualmente são registradas até 800 entradas de venezuelanos por dia na fronteira com o Estado de Roraima. “Isso está criando problemas até para a vacinação, para a organização”, reclamou.
Temer assinou na terça-feira 28 o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que autoriza o emprego das Forças Armadas em Roraima.
A autorização vale para algumas áreas específicas, no caso, as faixas de fronteira Norte e Leste, e as rodovias federais, entre os dias 29 de agosto e 12 de setembro.
Segundo fontes militares, o decreto permitirá que os 3.000 soldados da Primeira Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Boa Vista, seja mobilizada para patrulhas e operações em Roraima. Atualmente, 600 desses militares já estão alocados em Pacaraima, cidade na fronteira com a Venezuela. Sem o decreto, esse contingente não pode entrar em ação mesmo em situações de necessidade.
O governo federal mostra-se especialmente preocupado com a evolução da crise econômica e humanitária na Venezuela, que resultou no êxodo de mais de 2,3 milhões de venezuelanos. Desse total, somente cerca de 60.000 cruzaram a fronteira para o Brasil. A perspectiva, porém, é de aumento desse contingente, mesmo com a rejeição crescente da população local e do governo de Roraima.
Na entrevista à Rádio Jornal, Temer falou sobre o decreto e outras medidas já tomadas pelo governo para aliviar a crise migratória em Roraima. “Estamos dando todo o apoio aos venezuelanos, mas com vistas a proteger os serviços estaduais que são prestados aos brasileiros”, disse.
O presidente reforçou mais uma vez as críticas ao governo de Nicolás Maduro. “Há um ano e meio atrás propusemos envio ajuda humanitária, alimentos, remédios, mas o governo recusou”, afirmou. “O governo recusa lá e os venezuelanos vêm para cá”.
Roraima tornou-se a principal porta de entrada de venezuelanos no Brasil. Nesta semana, com a ajuda da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o governo adotou um programa mais intenso para transferir venezuelanos para outras cidades e estados do país.
A questão da imigração venezuelana tem gerado uma queda de braço entre a governadora de Roraima, Suely Campos, e o Palácio do Planalto. Em meio à campanha eleitoral, Campos responde ao desconforto popular com a presença dos venezuelanos com tentativas de bloquear a fronteira e de impor restrições ao ingresso.
O governo federal, ente responsável por definir essa questão, tem se mostrado contrário ao fechamento da fronteira. O ministro de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, sublinhou que essa medida não será adotada, e que o Planalto não cogita a intervenção federal em Roraima em declaração na terça-feira.