‘Tomada de Lima’: protestos no Peru viram batalha com a polícia
A presidente Dina Boluarte prometeu punir os manifestantes, que pedem sua renúncia
No Peru, um protesto apelidado de “Tomada de Lima” se transformou em uma batalha contínuas entre manifestantes e a tropa de choque peruana na noite de quinta-feira 19. A capital do Peru virou uma confusão de arremessos de pedras e redemoinhos de gás lacrimogêneo, enquanto multidão pedia pela renúncia da presidente Dina Boluarte.
Milhares de pessoas de todo o país chegaram a Lima no início da semana para engrossar a reivindicação, após quase seis semanas de turbulência que matou mais de 50 pessoas, incluindo um policial.
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Em um discurso televisionado tarde da noite, Boluarte disse que a polícia tinha os protestos sob controle e que os responsáveis pela violência e vandalismo não ficariam “impunes”, acrescentando que “esta não é uma marcha pacífica”. Ela disse que o “governo está firme e seu gabinete está mais unido do que nunca”.
Boluarte afirmou que os protestos “não tinham agenda social”, mas buscavam “quebrar o estado de direito, gerar caos e desordem e tomar o poder”. Ela acrescentou que ataques a três aeroportos regionais foram planejados com antecedência e serão punidos com “todo o rigor da lei”.
“Ao povo peruano, aos que querem trabalhar em paz e aos que geram atos de protesto, digo: não me cansarei de chamá-los a um bom diálogo, de dizer que trabalhamos pelo país”, disse ela.
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Uma pessoa morreu e cerca de 10 ficaram feridas em confrontos com a polícia na cidade de Arequipa, no sul do país, na quinta-feira, segundo a ouvidoria do Peru, e quando manifestantes teriam tentado invadir o aeroporto. Vários aeroportos foram fechados e grandes áreas do país foram paralisadas por mais de 120 bloqueios de estradas.
A indignação com o aumento do número de mortos alimentou os crescentes protestos, que começaram no início de dezembro em apoio ao ex-presidente deposto Pedro Castillo, mas sua agenda passou a exigir, mais especificamente, a renúncia de Boluarte, o fechamento do Congresso e novas eleições.
Boluarte era o vice-presidente de Castillo e o substituiu depois que ele tentou dar um autogolpe para evitar um processo de impeachment, fechando o Congresso por decreto em 7 de dezembro.
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Mais cedo na quinta-feira, milhares marcharam pela praça San Martín, em Lima. Organizações de segurança camponesas conhecidas como ronderos carregavam chicotes tradicionais, e mulheres indígenas usavam saias coloridas tradicionais. O refrão “Dina, assassina, o povo te repudia” pôde ser escutado, em meio a cartazes com imagens da presidente do Peru banhada em sangue.
Boluarte, que disse na semana passada que não renunciaria, se encontrou com um representante do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos na quinta-feira. Na semana passada, a agência disse estar “muito preocupada com o aumento da violência” no Peru.
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Os embaixadores dos Estados Unidos e do Reino Unido no Peru elogiaram a reunião e emitiram declarações na quinta-feira pedindo calma e diálogo.
Em comunicado no Twitter, a embaixadora americana, Lisa Kenna, disse ser “fundamental que as forças da ordem respeitem os direitos humanos e protejam os cidadãos”. Em declaração semelhante, seu colega do Reino Unido, Gavin Cook, pediu “investigações imediatas e imparciais, medidas de responsabilização e justiça para as vítimas dos relatos de violações de direitos humanos”.