O governo do Iraque decretou toque de recolher na capital, Bagdá, após protestos violentos em várias cidades que em 24 horas deixaram um saldo de pelo menos nove mortos. A medida entrará em vigor na quinta-feira e continuará “até novo aviso” para “veículos e pessoas em Bagdá”.
A polícia iraquiana disparou com munição real nesta quarta-feira 2 para dispersar novas manifestações em Bagdá, apesar de o presidente do país e a ONU terem pedido calma.
Submetido ao seu primeiro teste popular depois de chegar ao poder há quase um ano, o governo de Adel Abdel Mahdi acusou “agressores” e “sabotadores” de “terem causado vítimas deliberadamente”.
Os protestos continuaram ao cair da noite e o governo anunciou o fechamento da chamada Zona Verde, no centro da capital, onde estão os ministérios e embaixadas.
Nesta quarta-feira, houve disparos nas manifestações organizadas nos bairros de Al-Shaab, ao norte da capital, e Zaafaraniya, no sul.
Os protestos se estenderam a outras províncias. Seis manifestantes e um policial morreram na cidade de Naritiya e os demais em Bagdá.
Em Zaafaraniya, onde os manifestantes queimaram pneus, um jornalista da AFP ouviu tiros, como aconteceu por várias horas na terça-feira na Praça Tahrir, no centro da cidade, onde o movimento começou.
Os protestos foram dispersos à força: primeiro, com jatos d’água; depois, com gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Essas manifestações não têm partido, nem líder religioso, e são motivadas pela deficiência dos serviços públicos e pelo desemprego.
O principal líder xiita, Moqtada Sadr, pediu nesta quarta-feira “protestos pacíficos e uma greve geral” para aumentar a pressão. Sadr foi o principal incentivador das revoltas de 2016, que paralisaram o governo.
A representante da ONU no Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, mostrou-se “muito preocupada” com essa tensão nas ruas e pediu às autoridades que “ajam com moderação”.
O Iraque, que viveu anos de guerra desde 2003 e teve de enfrentar grupos insurgentes islâmicos, está devastado pela corrupção e pelos combates e sofre anos de escassez crônica de energia elétrica e água potável.
Essas manifestações denunciam especialmente a classe política do 12º país mais corrupto do mundo, segundo ranking da ONG Transparência Internacional.
(Com AFP)