O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira 24 que a investigação da interferência russa na política americana foi uma “grande farsa”. O republicano se posicionou ao fim do depoimento do ex-procurador especial Robert Mueller no Congresso.
“Não havia argumentos para o que Robert Mueller estava tentando defender”, disse Trump à imprensa. “Não havia argumentos para essa ridícula farsa”.
“Foi um grande dia para o nosso país, um grande dia para o Partido Republicano. E vocês podem dizer que foi um grande dia para mim”, continuou o presidente americano. Para Trump, o depoimento e a atuação de Mueller no caso foram horríveis, além de um “desastre” para a oposição democrata.
Em sua esperada audiência no Congresso, Mueller, que investigou a ingerência russa na campanha eleitoral de 2016 nos Estados Unidos, negou poder isentar Donald Trump de denúncias de obstrução de justiça, mas se recusou a fazer acusações ao presidente.
Em uma audiência tensa, Mueller disse aos legisladores democratas e republicanos que embora as diretrizes do Departamento de Justiça impeçam processar um presidente no exercício de suas funções, teoricamente Trump poderia ser processado por obstrução da Justiça depois de deixar o cargo.
Com a voz trêmula e em alguns momentos com um semblante de incerteza, o ex-procurador especial de 74 anos não deu aos democratas o que eles queriam: uma declaração que indicasse claramente que Trump obstruiu a Justiça, de forma que se pudesse sustentar um processo de impeachment.
Apesar do presidente ter cantado vitória, democratas da Câmara dos Deputados prometeram seguir adiante com as investigações contra Trump. Até o momento, contudo, a perspectiva de abertura de um processo de impeachment ainda parece remota.
Ainda assim, o presidente do Comitê Judiciário, Jerrold Nadler, disse que o colegiado irá aos tribunais nos próximos dois dias pedir a emissão de uma intimação para que Don McGahn, um ex-conselheiro da Casa Branca, deponha.
McGahn, testemunha de destaque no relatório final de 448 páginas de Mueller, se recusou a depor ao comitê de Nadler.
“As desculpas –não as chamarei de motivos– as desculpas que a Casa Branca dá para McGahn não depor… são as mesmas desculpas de todas as outras testemunhas de fatos. E se conseguirmos derrubar isso, derrubamos a obstrução”, disse Nadler em uma coletiva de imprensa com a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e outros chefes de comitês.
As ações nos tribunais podem começar já na quinta ou sexta-feira, e a determinação dos democratas indica muitos meses mais de apurações parlamentares sobre Trump, seu governo e seus negócios privados.
Trump “não foi inocentado”
O depoimento do ex-procurador aconteceu em um momento em que republicanos e democratras aquecem motores para a eleição presidencial e legislativa de 2020, com Trump determinado a repetir sua vitória.
O ex-promotor especial abriu a audiência no Comitê de Justiça da Câmara dos Deputados lendo uma declaração que dava a impressão de que ele poderia estar se preparando para responder aos ataques contra ele e a investigação lançados por Trump, que o criticou taxando seu trabalho como uma “caça às bruxas”.
“O presidente não foi inocentado pelos atos que supostamente cometeu”, disse Mueller. Mas afirmou estar impedido de recomendar a apresentação de acusações contra Trump porque as regras do Departamento de Justiça (Procuradoria-geral) o proibiam de acusar um presidente no exercício de suas funções.
“O presidente não pode ser processado por um delito”, disse, apesar de acrescentar que era “certo” que Trump poderia ser processado por obstrução da justiça após deixar o cargo.
Na segunda audiência perante o Comitê de Inteligência, Mueller confirmou que a equipe de campanha de Trump teve contatos questionáveis com a Rússia em 2016, em parte impulsionados por negócios que queriam assegurar
E disse que é “absolutamente correto” que, apesar de não ter acusado os membros da campanha de Trump de conspiração por fazer conluio com os russos, sua investigação encontrou, sim, evidências de conspiração.
Mueller qualificou de problemático o incentivo público de Trump para que o WikiLeaks vazasse documentos roubados pela Rússia sobre sua adversária nas eleições presidenciais de 2016, a democrata Hillary Clinton.
Em relação aos contatos entre o WikiLeaks e o filho de Trump, Donald Jr., nessa época, Mueller disse que eram “perturbadores”.
Em uma tentativa de se descolar da campanha para as eleições presidenciais em 2020, Mueller negou-se a ler em voz alta as conclusões de seu relatório ou a descrevê-las em frases completas.
As respostas evasivas e curtas do procurador tampouco comungaram com os esforços dos democratas de encontrar novos caminhos para afetar a reputação de Trump.
Democratas ainda analisam o impeachment
Os democratas, que na semana passada aplaudiram um chamado nascido de suas fileiras para iniciar um processo de impeachment contra Trump, argumentaram que o testemunho de Mueller acrescentava argumentos para um “impeachment” e que eles continuariam buscando informações.
“Vamos combater o presidente no tribunal” para obter registros e testemunhos, disse a líder da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi.
“Se tivermos um caso para um impeachment, temos que ir (ao tribunal)”, disse Pelosi, acrescentando que eles querem ter o caso mais sólido possível para tomar uma decisão.
Mas para os republicanos, o depoimento de Mueller põe fim à investigação. “O povo americano entende que este assunto acabou. Eles também acreditam que o caso está encerrado”, disse o advogado de Trump, Jay Sekulow, em um comunicado.
(Com AFP e Reuters)