México e Estados Unidos chegam a acordo para evitar tarifaço
Medida sobre produtos mexicanos custaria 400.000 empregos nos Estados Unidos e US$ 900 ao ano para cada domicílio americano
O presidente Donald Trump anunciou pelo Twitter na noite desta sexta-feira, 7, que não haverá imposição de tarifas punitivas sobre as importações do México. O chanceler mexicano Marcelo Ebrard confirmou o acordo também pelo Twitter e disse que estava no Departamento de Estado, onde anúncio seria feito até o fim da noite. As tarifas sobre importações mexicanas “estão suspensas indefinidamente”, afirmou o presidente americano.
Quando os termos do acordo forem divulgados será esclarecida a questão mais espinhosa apresentada por Trump e que encontrou repetida resistência dos mexicanos. O governo Trump exigia que o México assumisse a responsabilidade por todos os imigrantes centro-americanos pedindo asilo que cruzassem seu território, o que, na prática, os impediria de bater às portas dos Estados Unidos. O presidente Andrés Manuel López Obrador era contra esta concessão.
A bordo do Air Force One em seu retorno da Europa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dissera, durante a tarde, haver “boas chances” de se evitar a adoção de tarifas de importação sobre 360 bilhões de dólares em produtos do México a partir de segunda-feira, 10. A ameaça fora imposta por ele mesmo, como punição para a suposta negligência do país vizinho no controle da imigração de centro-americanos.
A declaração de Trump surgiu entre idas e vindas da Casa Branca sobre o tema nesta sexta-feira, enquanto os negociadores americanos e mexicanos ainda tentavam chegar a um acordo. Em um gesto de última hora do governo mexicano para evitar o tarifaço, o governo de Andrés Manuel López Obrador enviou 6.000 soldados da Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala para bloquear uma nova caravana de imigrantes. Ainda assim, o governo de Trump insistia que a primeira rodada de tarifas contra produtos do México entraria em vigor na segunda-feira, 10.
Na semana passada, Donald Trump havia anunciado que a primeiras tarifas de importação seriam de 5%, aumentando 5% a cada mês até chegar a 25% – um golpe severo para a economia mexicana, acostumada ao livre comércio com o parceiro do norte.
A decisão de Trump de misturar comércio exterior à política de imigração provocou um racha no Partido Republicano, especialmente entre senadores cujos estados serão diretamente afetados por uma guerra comercial com o México.
Um grupo de senadores tentava convencer o presidente de que ele arriscaria sofrer mais deserções em sua base do que em março passado, quando doze legisladores republicanos diluíram a maioria confortável do partido no Senado ao se juntaram aos democratas. O resultado foi o desmonte da situação de emergência que Trump decretara por causa da crise de imigrantes na fronteira sul.
Uma companhia de análise econômica baseada no Texas, Perryman Group, divulgou nesta semana um relatório prevendo a perda de até 400.000 postos de trabalho nos Estados Unidos se a medida foi aplicada. Desse conjunto, 117.000 empregos seriam perdidos somente no Texas, estado tradicionalmente republicano onde o pré-candidato democrata Joe Biden apareceu na quinta-feira 6, pela primeira vez, com quatro pontos na frente de Trump em uma pesquisa de intenção de votos para a eleição de 2020.
Além de produtos agrícolas e peças e componentes de automóveis, o México exporta para os Estados Unidos petróleo cru, tratores, televisores, telefones, equipamentos para computadores, instrumentos cirúrgicos, refrigeradores, ar-condicionados e bebidas alcoólicas. E também frutas, como o abacate. O portal Vox consultou um grupo de economistas e concluiu que o custo das tarifas para cada domicílio americano seria de 900 dólares por ano.
A economia mexicana, com pesada dependência de exportações para os Estados Unidos, sofreu contração de 0.2% no primeiro trimestre. Poderia entrar em recessão com a escalada das tarifas americanas, estimou na semana passada o economista Felipe Hernandez, da Bloomberg, num golpe para o governo de López Obrador, empossado há apenas seis meses.