Trump pressiona vice a não proclamar vitória de Biden no Congresso
Em comício na Geórgia, presidente não citou papel de Mike Pence em plenária, mas afirmou que 'não gostará tanto dele' caso não faça 'alguma coisa por nós'
Cada vez mais isolado em sua cruzada contra o resultado da eleição presidencial, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou o vice, Mike Pence, para não ratificar o resultado do Colégio Eleitoral na sessão do Congresso que acontece na próxima quarta-feira, 6. A plenária deve proclamar a vitória do ex-vice-presidente democrata Joe Biden e será presidida por Pence.
Durante comício eleitoral na Geórgia na segunda-feira 4, Trump afirmou que seu colega de chapa é um bom republicano, mas que “não gostará tanto dele” caso não faça “alguma coisa por nós”.
“Tenho que dizer a vocês, espero que nosso grande vice-presidente, nosso grande vice-presidente, faça algo para nós. Ele é um cara ótimo. Porque se ele não fizer, eu não gostarei dele tanto”, disse Trump. “Mike é um cara legal. Ele é um homem maravilhoso e inteligente, e um homem de quem gosto muito. Mas ele terá muito a dizer sobre isso”.
Na quarta-feira será feita a última etapa do processo eleitoral americano antes da posse de Biden, marcada para o dia 20. Na ocasião, a Câmara dos Deputados e o Senado se reunirão em uma sessão conjunta para contar os votos dos delegados ao Colégio Eleitoral, que se reuniram em 14 de dezembro e ratificaram a vitória do democrata. O vice-presidente, que também é presidente do Senado, preside a sessão e proclama o resultado.
No entanto, deputados republicanos vêm pressionando Pence a mudar o resultado nas eleições presidenciais, em um dos esforços de Trump e aliados para invalidar a vitória de Biden. Na sexta-feira, um juiz federal rejeitou uma ação movida pelos deputados.
Em decisão, o juiz Jeremy D. Kernodle, do distrito federal para o Leste do Texas, disse que os deputados republicanos que entraram com o processo carecem de legitimidade para abrir uma ação judicial que visa anular a eleição presidencial de 2020, depois que Pence pediu à Justiça americana um dia antes que rejeitasse o processo.
O pedido de Pence foi visto como uma indicação de uma ruptura com a estratégia do presidente, já que o próprio vice chegou a defender acusações falsas sobre fraudes ao pleito.
Geórgia
A fala de Trump foi feita durante um evento eleitoral na cidade de Dalton para endossar a candidatura dos dois republicanos, Kelly Loeffler e David Perdue, que tentam a reeleição ao Senado americano pela Geórgia. No comício, ele afirmou a apoiadores que “nosso país depende de vocês. O mundo inteiro está de olho na Geórgia”.
Os votos nos republicanos podem ser “a sua última oportunidade de salvar os Estados Unidos que amamos”, declarou às pessoas que compareceram ao evento na comunidade rural e conservadora do noroeste da Geórgia.
Do outro lado, Biden também viajou ao estado no sul do país, que não elege um democrata para o Senado há 20 anos. Mas se Raphael Warnock, pastor afro-americano de 51 anos, e Jon Ossoff, produtor audiovisual de 33, conseguirem essa façanha, darão ao partido o controle do Senado, além da Câmara dos Deputados de maioria democrata.
Se isso acontecer, o Senado ficaria com 50 cadeiras para cada força, motivo pelo qual a futura vice-presidente, Kamala Harris, teria o voto decisivo, fazendo com que a balança pendesse para o seu lado nessa Casa, atualmente de maioria republicana.
“O poder está nas suas mãos. Um só estado pode mudar o rumo não apenas nos próximos quatro anos, mas também para a próxima geração”, declarou Biden.
O presidente eleito criticou a falta de ação de Trump ao citar o começo caótico da campanha de vacinação contra a covid-19. “Não entendo por que ele quer tanto manter o cargo, quando já não quer trabalhar.”
As pesquisas mostram os candidatos empatados: Ossoff desafia Perdue, enquanto Warnock tentará desbancar Loeffler. Os republicanos partem como favoritos no estado conservador. Os democratas contam, porém, com a vitória de Biden em 3 de novembro, a primeira de um democrata na Geórgia desde 1992.
O comício na Geórgia aconteceu um dia depois de o jornal Washington Post ter divulgado uma gravação de uma ligação do presidente a um funcionário responsável por supervisionar as eleições neste estado.
Repetindo suas acusações de fraude, sem provas, Trump disse ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, que a eleição foi “roubada”. Ele pediu ao funcionário que “encontrasse” as cédulas necessárias para anular sua derrota no estado.